A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia, que teria por missão avaliar a atividade do governo durante a pandemia, até o presente momento, foi do nada a lugar algum. Todos os holofotes da política nacional, inclusive da esquerda, voltaram-se para ela, tão logo foi anunciada. O que se passou até o momento foi uma verdadeira chanchada. A expectativa da esquerda era que a CPI se tornasse uma arma contra o governo Bolsonaro, o objetivo da direita era debilitar a imagem do governo, fazendo-o cair abaixo dos 20% das intenções de voto e apresentar a si mesma como terceira via palatável. Uma forma de acumular forças para o chamado “centro”, através de um “antibolsonarismo” moderado e quem sabe até levantar um nome competitivo para as próximas eleições. Até aqui, a expectativa de uns e os objetivos dos outros tem sido constantemente frustrados.
A CPI já ouviu ex-ministros do governo Bolsonaro, além de outras pessoas envolvidas de alguma maneira com ações do governo. Os ex-ministros da saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, de quem se esperava a revelação de grandes crimes do governo, já que são aliados e peças da direita, frustraram a todos. Seus depoimentos não foram além do que todo mundo sabe, que Bolsonaro receitou e receita hoje abertamente a cloroquina.
Ainda outros depoimentos acabaram na completa galhofa, o ex-secretário de Comunicação do Palácio do Planalto, Fabio Wajngarten, mentiu na CPI, o que teoricamente seria crime em flagrante, senadores ameaçaram prendê-lo, o que não foi feito, para terminar o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, que não faz parte da comissão, compareceu a sessão e chamou o relator, Renan Calheiros de vagabundo, que devolveu o gracejo, chamando-o de miliciano.
Também compareceu à CPI o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Os questionamentos se prenderam à questão da política do Itamaraty contra a China e a questão das vacinas. O ministro, conhecidamente uma pessoa intelectualmente limitada, ludibriou os senadores e saiu pela tangente e afirmou que nunca fez gesto contra a China e que se esforçou para conseguir vacinas. Ficou tudo por isso mesmo.
Diante da frustração, o governo até aqui não sofreu quase arranhão nenhum, todas as esperanças se concentraram no depoimento do General Eduardo Pazuello, ex-ministro da saúde que mais tempo passou no comando da pasta durante a pandemia. As Forças Armadas, no entanto, emitiram sinais silenciosos para coibir um tanto o ímpeto da CPI, que pode atingir a imagem da instituição. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM) telefonou para o Comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, um dia antes do depoimento do general Pazuello para dar uma satisfação à instituição, segundo ele não será o exército que estará depondo, mas um ex-ministro.
Pazuello, ainda conseguiu um Habeas Corpus do STF que lhe permite ficar em silêncio caso ache que possa se incriminar, pois já é réu em processo que aborda sua responsabilidade na crise da pandemia em Manaus. Mesmo assim respondeu os questionamentos no primeiro, de dois dias, de oitivas. Afirmou que o Ministério da Saúde nunca recomendou cloroquina e sim que só um médico poderia recomendar, que fez tudo dentro dos protocolos e conformes, informou que as condições do contrato com a Pfizer em 2020 eram assustadoras, não tem culpa pelas mortes, mas é resultado é estrutura do sistema de saúde, cumpriu a missão e deixou o governo.
Um ponto que se destaca é a atuação vergonhosa da esquerda, que não conseguem retirar absolutamente nada das testemunhas presentes, o tom é geralmente amistoso, as mentiras e impropérios ditos passam batido, a CPI para ter entrado ritmo mecânico típico, no final termina tudo na famosa pizza. Igualmente são os parlamentares de direita, que temem arranhar o governo, nada é investigado, ninguém é culpado e a impressão que dá é ninguém sabe o que estão inquirindo.
Isso se relaciona a investida que Bolsonaro fez no início da CPI, que iniciou os trabalhos em 27 de abril, no dia 1º de maio. Bolsonaro chamou sua base a sair às ruas pedindo intervenção militar, endureceu o discurso e voltou a ameaçar o país com um golpe de força, supostamente contra a direita, por meio do combate a política de “lockdown” dos governadores da direita. Sem dúvida, a direita sentiu o impacto e seu ímpeto de debilitar a imagem do governo foi bastante contido, no entanto, demonstram que não desistiram de tentar criar uma terceira via. Para isso, no entanto, Bolsonaro tem que cair abaixo dos 20% de intenções de voto, condição necessária para abrir espaço para um candidato de fora, uma vez que a esquerda, com o ex-presidente Lula domina as intenções de voto e mesmo que tirassem o ex-presidente Lula do páreo por uma manobra causaram instabilidade no país e ainda não bateram Bolsonaro ou a esquerda nas urnas.
Assim, a CPI é natimorta, somente um grande acontecimento pode fazê-la reviver e cumprir algum papel na luta política, sem isso, como o normal de todas as CPIs, terminará como o esperado por quem não se seja iludir pelo desejo, mas se concentra na realidade, ou seja, em nada.