No Brasil a problemática da desigualdade e da concentração de grandes áreas de terras férteis pouco ou não utilizadas, teria como solução mais justa e produtiva a reforma agrária, porém os latifundiários e a mídia capitalista transformam a discussão sobre a temática em um campo de guerra, onde de um lado estão os “mocinhos” vítimas da selvageria dos “vilões” que querem tomar terras.
A manipulação das opiniões da grande massa, faz com que parcela considerável da população brasileira vejam de forma preconceituosa e pejorativa a luta pela justiça no campo e assim o apoio à causa dos trabalhadores rurais acaba enfraquecida, garantindo aos grandes latifundiários a legitimação e possibilidade de manutenção das desigualdades no campo.
Além desses fatores, a abordagem das notícias quando ocorre violência no campo contra os trabalhadores rurais é igualmente distorcida, sendo empregados termos e ênfases estratégicas que induzem a um ponto de vistas que põe os trabalhadores rurais como grandes vilões e ladrões de terras.
Como forma de combater preconceitos, quebrar tabus e apresentar a legitimidade da luta dos trabalhadores rurais em busca de justiça no campo e a diminuição das desigualdades, a cineasta Camila Freitas documentou e apresentou ao mundo no 69º Festival Internacional de Cinema de Berlim, realizado em 2019, o filme-documentário Chão.
Em Chão a luta pela terra e por Reforma Agrária Popular é a grande estrela. O longa metragem acompanha o dia a dia de uma ocupação do Movimento Sem Terra na Usina Santa Helena, em Goiás, e mostra a importância das ações do Movimento na vida das pessoas por uma vida digna.
O filme, que busca sensibilizar o público e fazê-lo refletir, tem como cenário a fazenda Santa Helena, que possui uma área com cerca de 15 mil hectares e que acumula aproximadamente R$ 1 bilhão em dívidas com a União.
As terras são ocupadas por aproximadamente 4 mil pessoas que passaram a ocupá-la em 2015, e a partir de então deu-se início uma perseguição ao MST pelo juiz da Comarca de Santa Helena e pelo Ministério Público Estadual, levando a prisão de dois militantes por formação de organização criminosa.
Para Camila Freitas o cinema documental se propôs a se aproximar de lutas e realidades sociais adversas em muitos momentos da história, mas essa tarefa vem se tornando cada vez menos a de “retratar”, “representar” povos oprimidos.
Ela destaca que o filme foi construído em estreita colaboração com o movimento, da pesquisa à montagem, e que desde 2019 vêm construindo estratégias de difusão. E completa dizendo que a aproximação com o MST se deu através do interesse comum pelo cinema como ferramenta da luta.
Camila afirma que um dos principais objetivos do documentário foi trazer à tona uma poética que se nutre do caráter épico da luta, bastante explorado por filmes engajados e políticos que a gente admira, junto a um registro mais micropolítico, íntimo e imersivo que nos aproxima das pessoas que a compõem.
Assim, através da arte cinematográfica, Camila Freitas busca, por meio do documentário Chão, proporcionar conexões e leituras sobre o MST e ser instrumento de politização e mudança, além de apresentar a necessidade de aprofundar a luta pela terra, contra o latifúndio, pelo direito a autodefesa dos trabalhadores da terra e exigir que seja feita a reforma agrária popular.