O governo ilegítimo de Bolsonaro e seus membros é conhecido por suas diversas declarações bombásticas com relação à pandemia, sempre se colocando a favor da reabertura total da economia, contra o isolamento social e até, no princípio de toda a crise, questionando a própria existência do coronavírus – afirmando que este seria apenas uma “gripezinha”. As declarações são a face mais verdadeira da posição da burguesia a respeito do que deve ser feito com relação ao coronavírus. Ao contrário, ao menos em palavras, dos governadores dos estados, em sua maior parte representantes do centrão e da direita tradicional, que procuram sempre fazer demagogia com o tema, fingindo defender medidas que possam combater a disseminação do vírus, mas nunca fazendo nada de fato.
Na esteira dessa política, o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, compareceu na última quinta-feira (6) à CPI da Covid – o grande palanque eleitoral da direita para procurar arrancar votos de Bolsonaro – e ali declarou ser contra a quebra das patentes das vacinas, e que esta seria a posição de todo o ministério. Não se trata de nenhuma novidade, é a posição que o governo vem defendendo em diversos fóruns internacionais, contra outros países, como China, Índia e África do Sul, que se posicionaram sempre a favor desta medida.
No entanto, houve uma mudança de posição do imperialismo com relação à questão. A representante comercial do governo norte-americano, Katherine Tai, veio a público para defender uma “negociação” na Organização Mundial do Comércio no sentido de “suspender” – a longo prazo – a patente das vacinas. Menos de 24 horas depois, o ministro Queiroga, juntamente com o ministro das relações exteriores do Brasil, Carlos Alberto França, anunciaram que o governo tinha alterado sua posição e se colocado a favor desta negociação da suspensão temporária da quebra das patentes das vacinas.
É preciso destacar que a posição, tanto do imperialismo quanto do governo Bolsonaro sobre a quebra das patentes das vacinas, está longe de ser no sentido de solucionar o problema da pandemia no Brasil e no mundo. O que se propõe é um processo negociado de suspensão de patentes que provavelmente irá levar meses, e que será, um caráter temporário. Durante esse período, centenas de milhares ou talvez milhões de mortes pela Covid-19 irão ocorrer ao redor do mundo enquanto os grandes monopólios farmacêuticos detém as fórmulas das vacinas para serem produzidas apenas em seus países, onde parte de sua população estão sendo imunizada a “peso de ouro”, enquanto nos países atrasados compram esses imunizantes a preços exorbitantes e realizam uma vacinação em uma velocidade extremamente lenta, a exemplo do que se vê no Brasil.
Vacinas da Pfizer 20% mais caras para o Brasil
Enquanto o governo norte-americano faz a demagogia da quebra das patentes a longuíssimo prazo, as grandes empresas farmacêuticas continuam aumentando seus lucros em cima da morte da população do mundo todo. Segundo consta no Diário Oficial da União da última quinta-feira, 6, o governo brasileiro está estudando a compra de 100 milhões de doses do imunizante da marca norte-americana ao valor de US$12 a dose, um preço 20% maior do que o valor de compra anterior, quando o governo adquiriu a mesma quantidade de doses. Ao todo, a nova compra totaliza mais de R$6,6 bilhões, R$1 bilhão a mais do que a compra anterior.
A entrega dos lotes da vacina seria feita em duas etapas. O primeiro lote, com 30 milhões de doses, chegaria no terceiro trimestre do ano (entre julho e setembro). Já a segunda remessa, chegaria no trimestre seguinte (entre outubro e dezembro), com as 70 milhões de doses restantes.
Sobre essa negociação absurda, é preciso destacar algumas questões. Primeiramente, o caráter criminoso do aumento do preço da vacina diante do aumento das mortes pela Covid, que é um demonstrativo do porquê o capitalismo é totalmente incapaz de prover para a população mundial um caminho para a luta contra a pandemia. Além disso, deve-se destacar que, devido à dificuldade de manter as condições de temperatura e transporte para a manutenção da vacina, cerca de 30% das doses podem ser perdidas no processo.
Outro ponto crítico de toda a negociação é a demora prevista na entrega das doses. Com média oficial de cerca de 2,5 mil mortes diárias pela covid-19 no Brasil, o governo propõe uma compra de vacinas que só será concluída em dezembro deste ano, quando o número oficial de mortos total já poderá estar próximo de 1 milhão, isso sem contar a subnotificação que é flagrante desde o princípio da crise sanitária.
O capachismo de Bolsonaro e a crise da vacina
Sobre esses acontecimentos, pode-se concluir, primeiramente, que existe uma harmonia total entre o posicionamento de Bolsonaro e o do imperialismo norte-americano, representado pelo governo de Joe Biden. Enquanto o governo dos EUA se colocava contra a quebra das patentes da vacina, a fim de defender os interesses econômicos da indústria farmacêutica, o governo brasileiro declarava estar contra também. Pouco tempo depois, os norte-americanos emitem uma opinião diferente e o governo corre a mudar seu posicionamento também.
Isso prova que a crença da esquerda pequeno-burguesa de que o elo de ligação entre Bolsonaro e o imperialismo seria sua simpatia com Donald Trump era totalmente infundada. Já está bem estabelecido que Biden tem total domínio sobre Bolsonaro, tanto quanto seu predecessor.
Além disso, deve-se ter claro que a mudança de posição do imperialismo não se deu por conta de sua preocupação com a vida da população, mas sim com a contenção da gigantesca crise que vem se desenvolvendo em torno da questão da vacina. Países atrasados como Brasil, Índia e tantos outros, em que o pior momento da pandemia ainda está para chegar, vêem seus mortos empilharem a cada dia que passa, tornando urgente a produção da vacina em seus próprios territórios, que só poderá vir com a quebra das patentes, o que pressiona o imperialismo, que tem receio de um levante dentro destes países por conta dessa questão. Estão em jogo também a pressão de outros setores do imperialismo que vêm seus ganhos reduzirem no momento atual e que pressionam no sentido de uma vacinação passiva e, portanto, no sentido da quebra das patentes.
Além disso, o governo chinês recentemente declarou que irá fornecer a fórmula de sua vacina para quaisquer países que a queiram produzir. Isso veio como uma “bomba” dentro do esquema de lucro das multinacionais, que lucram bilhões com a venda de suas vacinas.
O movimento operário, as organizações populares e a esquerda precisam lutar pela quebra imediata das patentes de todas as vacinas, cujas fórmulas devem ser divulgadas para todos os países, para que haja uma produção célere de todas as doses necessárias na imunização de toda a população mundial. Além disso, o controle da produção das vacinas, da sua distribuição, vacinação etc. deve ser feito pela própria classe trabalhadora e pela população de conjunto, que é quem tem o maior interesse nessa questão.