“Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário”. Embora a esquerda pequeno-burguesa pseudorevolucionária cite frequentemente a frase escrita por Lênin quando o partido operário russo ainda dava seus primeiros passos, seu significado é muito mais profundo, e sua atualidade, inquestionável.
Teoria e prática
Oito anos nos separam do junho de 2013, um marco na ofensiva das forças golpistas que deram o golpe de Estado em 2016 e na estreia da ação organizada da extrema direita nas ruas, que deu sustentação “popular” ao putsch. Nosso partido conheceu um enorme desenvolvimento nesse período porque soube analisar e agir, influindo de maneira decisiva nos acontecimentos.
Crescemos em número de filiados e militantes, em termos de influência política e de organização. Tudo isso expressa a enorme vitória do nosso programa revolucionário, da concepção marxista do mundo manifesta na análise, nas palavras de ordem e na ação política do PCO.
A catástrofe que se aprofunda a cada dia desde o segundo golpe – o de 2018, com a prisão de Lula e a eleição fraudulenta de Bolsonaro – e o início da pandemia em 2020 colocou em evidência um problema: como enfrentar a crise? Esperar a crise passar para lutar ou lutar para que a crise não se aprofunde ainda mais? Ficar em casa ou ir às ruas?
Duas alternativas, dois programas, foram apresentados à classe trabalhadora. A resposta dada pela esquerda pequeno-burguesa, seja ela pseudorevolucionária ou abertamente reformista, revela muito mais sobre seus programas e suas concepções de mundo do que se pode imaginar à primeira vista. Decidiram esperar em casa até a poeira baixar. Já mostraram no ano passado que a nuvem poeirenta misteriosamente baixa às vésperas das eleições quando saíram às ruas à caça de votos como se nada mais estivesse acontecendo no País. Mostraram o programa ilusório de promessas de reforma da sociedade capitalista e de subordinação da classe operária à burguesia.
Nosso partido teve mais uma oportunidade de mostrar no que acredita e como vem fazendo para levar suas ideias à prática neste último 1º de Maio. O PCO provou que é possível fazer exatamente aquilo que é necessário para enfrentar corretamente a crise atual: sair às ruas, desafiar a política da direita colocada em prática pela esquerda pequeno-burguesa para paralisar e evitar a reação da classe operária ao desastre em curso.
Saímos às ruas porque acreditamos que a solução para a crise está na mobilização revolucionária do povo trabalhador, pobre e oprimido, esmagado pela fome, o desemprego, a pobreza e a pandemia. Essa política, a saída que apresentamos para o problema, se apoia integralmente na compreensão de quais forças sociais estão em conflito, de qual é o centro da luta política em curso, no programa revolucionário do marxismo.
A compreensão dessa situação, das contradições que fazem parte dela, vem do marxismo e da luta política. Mas a teoria revolucionária não cai do céu. O movimento revolucionário que depende dessa teoria precisa conquistá-la, dominá-la e isso – o significado da frase de Lênin sobre a teoria e o movimento revolucionário – só pode ser feito se a tarefa prática colocada para o partido operário for igualmente bem compreendida. É preciso estudar, fazer propaganda e organizar.
Estudar o marxismo
Foi nesse sentido que a direção nacional do PCO elaborou um plano nacional de formação política e teórica, reorganizando e centralizando as diversas atividades e cursos de formação que já vêm sendo realizados há anos. Com o novo plano de trabalho, os cursos da Universidade de Férias, realizados desde 1998, se ligarão aos da Escola Marxista e a diversos cursos e palestras oferecidos intermitentemente ao longo do ano.
Somada a essa iniciativa ousada, que visa elevar o nível teórico, político e cultural da militância, demos início à publicação de uma série de folhetos e livros para atender à demanda que vem crescendo na medida que as fileiras do próprio partido engrossam.
A publicação do folheto Bolchevismo e stalinismo, de Leon Trótski, e a primeira edição do livro A era da censura das massas, dos companheiros Rui Costa Pimenta e João Caproni Pimenta, sob o selo das Edições Causa Operária, são ótimos exemplos do que estamos preparando e realizaremos ao longo dos próximos meses.
Foi Monteiro Lobato, um militante da causa nacionalista brasileira, quem disse que “um país e faz com homens e livros” quando criou sua Companhia Editora Nacional em 1925 e se dedicou à tarefa de publicar livros sobre os mais diversos temas com a preocupação de incutir neles a defesa do país contra o imperialismo, a defesa da cultura nacional e da própria língua falada no Brasil. Acho justo parodiá-lo pois estamos diante de um desafio semelhante.
A construção do partido revolucionário da classe operária se expressa na relação dialética entre a qualidade de seu programa e o crescimento de suas fileiras. A situação política em nosso país depende, fundamentalmente, da ação revolucionária e consciente da classe trabalhadora, depende da solução da contradição entre as condições objetivas e subjetivas para a revolução, da solução para a crise de direção do proletariado. É preciso construir um partido operário e revolucionário de massas e, para isso, os livros que estamos publicando são indispensáveis.
A literatura de partido que se faz necessária nesse momento compreende tanto na difusão das obras fundamentais, que fazem parte do nosso programa – os clássicos do marxismo, de Marx, Engels, Lênin, Trótski e outros – quanto na elaboração de obras que desenvolvam o programa marxista à luz de novos acontecimentos, que aprofundem a compreensão da realidade a partir da concepção de mundo que corresponde à evolução do proletariado como classe. Precisamos de livros para estudar e aprofundar o entendimento do mundo à luz da concepção científica e materialista da realidade e precisamos de livros que expliquem essas e as nossas ideias que decorrem da aplicação do programa revolucionário à luta política prática e cotidiana.
Há livros e livros
Um último comentário, a respeito desses livros. Um importante obstáculo tem que ser superado para a formação da vanguarda consciente da classe operária: a escassez e a má qualidade.
Livros importantíssimos estão esgotados há muitos anos ou mesmo nunca foram traduzidos para o português. E quando são colocados na praça, possuem inúmeros defeitos, de tradução, de revisão, de apresentação e, sobretudo, sofrem com a deturpação ou tentativa de subordinação do que disseram gigantes como Marx e Lênin ao que pensam medíocres intelectuais de gabinete.
Uma tarefa importantíssima do esforço editorial do nosso partido é, nesse sentido, devolver a simplicidade original dos textos que foram escritos para operários e militantes. As obras que foram destinadas a educar e formar teórica e politicamente a vanguarda não podem ser desfiguradas para o deleite de quem acha justo, por exemplo, substituir um termo consagrado como a “mais valia” por uma invencionice pedante justificada apenas pelo gosto exotérico (e antimarxista) do tradutor e dos editores que querem empurrar ao leitor do Capital de Marx o termo “mais valor”.
Temos muito trabalho a fazer. Será melhor falarmos, em breve, sobre os livros que publicamos do que falar sobre os planos que estamos fazendo para publicá-los. Mãos à obra!