Foi instalada na última terça-feira (27) a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o combate – ou melhor, a aliança – do governo federal à pandemia do coronavírus, chamada de CPI da Covid.
Os integrantes dessa CPI – festejada tanto pela direita golpista como pela esquerda – dizem ser ela um novo baluarte em defesa da vida, da ciência, da civilização, da humanidade, contra o negacionismo e o obscurantismo.
Mas tudo não passa de um circo montado para fazer demagogia eleitoral. Isso precisa ser plenamente entendido. Não está em jogo o salvamento de vidas e o bem-estar da população, mas sim os votos nas eleições de 2022.
Velhos bandoleiros da política nacional como o relator Renan Calheiros e o presidente da CPI, Omar Aziz, não são representantes do povo, mas atendem aos interesses da mesma oligarquia e burguesia que deram o golpe em 2016.
Se os parlamentares quisessem realmente melhorar a situação material do povo, já teriam aplicado medidas para tal. Poderiam ter aprovado leis que garantissem a compra em massa de vacinas, a quebra das patentes ou um auxílio emergencial de um salário mínimo, por exemplo.
Não existe uma relação entre essa CPI e a defesa da vida da população. Serão 90 dias de atividades e durante esse tempo todo verá o País chegar a 400 mil e depois a 500 mil mortos, como disse o próprio senador Aziz.
A CPI é dominada pelo “centrão”, isto é, a direita tradicional que organizou o golpe de 2016, a prisão de Lula e a eleição fraudulenta de Bolsonaro. Trata-se, portanto, de um instrumento forjado por ela em sua luta para derrotar o presidente fascista nas eleições do ano que vem e implantar no Palácio do Planalto alguém de seu campo político.
Existem precedentes para essa campanha que está sendo preparada pela principal ala da burguesia. Quando do julgamento do Mensalão, a direita já havia apostado todas as suas fichas em atacar o PT através tanto das manobras do Judiciário quanto da propaganda em torno delas por parte da imprensa capitalista.
Tentam-se minar a base eleitoral e reduzir o apoio que seus adversários recebem de um setor da população. A Comissão, portanto, é uma arma eleitoral da direita golpista, não uma tentativa de investigar e punir os responsáveis pelo genocídio de 400 mil brasileiros.
Até porque essa mesma direita que comanda a CPI é, ela mesma, responsável junto com Bolsonaro pela situação de desastre que o País vive. A esquerda, ao invés de apoiar acriticamente essa CPI, deveria – já que dela participa – utilizá-la para denunciar e desmascarar toda a direita de conjunto.
É preciso entender que a CPI é uma arma da burguesia e que a esquerda, endossando integralmente as manobras que virão, estará fortalecendo a direita golpista e sua campanha eleitoral antecipada. Dando certo os planos da burguesia, de ganhar força eleitoral ao mesmo tempo que mina as forças de Bolsonaro, a esquerda estaria, portanto, corroborando a manobra eleitoral da direita, que seria sua principal inimiga nas eleições.
Participando da CPI, a esquerda deveria utilizá-la a seu favor, explicando à população que essa comissão, em si, não é uma solução para o desastre da pandemia e procurando desmascarar não só Bolsonaro mas também seus ditos “opositores” da direita.