Com a pandemia da COVID-19 e a falta de auxílio por parte do poder público, diversas casas de show conhecidas de São Paulo fecharam. O Morfeus Club, um pequeno espaço que recebe MC’s e cantores punk’s da cena underground da capital é um dos que não resistiu à pandemia e acabou de fechar as portas. O local, que recebia até 500 pessoas por noite, faz parte da triste estatística das casas de show que encerraram seus serviços desde o ano passado em São Paulo. É dramática a situação das pequenas casas de show. Estas sobrevivem, muitas vezes, através de doações do público que frequentava os locais.
O Diário da Causa Operária fez uma matéria recentemente relatando a crise financeira que a categoria dos artistas vem sofrendo. No artigo em questão (que pode ser lido no link https://www.causaoperaria.org.br/o-fechamento-dos-bares-e-casas-de-cultura/) foram citados locais como a Casa de Francisca, conhecida como “a menor casa de shows de São Paulo”, a Trapiche Gamboa, localizada no centro Histórico do Rio de Janeiro e o Ó do Borogodó, na Vila Madalena em SP. Esta última era o reduto das mais tradicionais rodas de samba da cidade, com quase duas décadas de funcionamento. Para enfrentar a crise, a casa de samba teve de recorrer à uma campanha financeira para não ser despejada.
Os espaços não tiveram nenhuma medida de auxílio por parte do Estado, à qualquer nível, que garantisse sua sobrevivência. Mais de 30% de bares e restaurantes foram fechados até o momento no estado de São Paulo, e 72% dos estabelecimentos operam no prejuízo, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Realidade semelhante nos outros estados, onde 70% desses estabelecimentos deverão fechar no próximo mês por falta de condições financeiras. Muitos não têm pretensão nem condições nenhuma reabrir as portas.
São espaços que fomentavam um circuito importantíssimo de estilos diferentes na música. Divulgavam artistas do indie, do punk e do MPB da cidade. Em reportagem à Folha de São Paulo, Daniel Leonel, proprietário da Casa do Mancha, disse: “Temos uma rede de casas de show independentes com gente do Brasil inteiro. Sabemos que uns 70% já fecharam e, no segundo semestre, é provável que existam poucas casas pequenas no país – ou nenhuma”. Mancha, como Daniel é conhecido, teve de entregar as chaves do seu empreendimento, que funcionava desde 2007.
Artistas como Criolo e Tulipa Ruiz deram seus primeiros passos rumo ao sucesso justamente neste espaço que acaba de fechar. “Antes de chegar ao Sesc, ao Coala, ao Bananada, você tem que tocar em casas de pequeno porte. São raras as exceções que já conseguem tocar num Cine Joia. A maioria esmagadora passa anos criando e amadurecendo o público e o espetáculo”, afirmou Mancha. A lista desses artistas é engordada ainda por nomes de gerações, estilos musicais e alcances diferentes, como Teresa Cristina, Emicida, Letrux, Tim Bernardes, Tiê, Kiko Dinucci, Fabiana Cozza, Luiza Lian e André Abujamra, que já passaram por esses palcos que estão caminhando rumo à extinção. É uma situação triste para quem vê e desesperadora para quem comanda um dos circuitos mais importantes da cultura nacional: os pequenos empresários musicais e os artistas que dependem dos espaços para começar suas carreiras.