No último dia 20, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgou o resultado das eleições presidenciais no Equador após completar 100% da apuração das urnas. Desta forma, o candidato de esquerda Andrés Arauz (UNES), que obteve 32,72% dos votos enfrentará o 2º colocado, o direitista Guillermo Lasso (CREO), que atingiu 19,74% dos votos. Em resposta, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), publicou um manifesto em que defende o voto nulo no 2º turno. A posição significa um apoio disfarçado à direita golpista, dado que a candidatura indígena imperialista de Yaku Perez, apoiada pela entidade, naufragou diante da polarização entre a esquerda nacionalista do candidato do ex-presidente Rafael Correa e a direita pró-imperialista do candidato banqueiro.
Em nota, em que defende o voto nulo, a CONAIE justifica que:
“Esta posição é consistente com nossa luta histórica, por nosso projeto político que transcende o tempo eleitoral, para rejeitar a divisão e ratificar a unidade e o fortalecimento de nossa estrutura organizacional.”
A posição mascara, no entanto, o golpe de Estado no País e o apoio indireto que a entidade dará à candidatura da direita golpista com este gesto, dado que a justificativa do voto nulo não se baseia numa luta contra o golpe, a burguesia equatoriana e o imperialismo, mas sim em lavar as mãos diante do golpe que a direita articula contra a candidatura da esquerda nacionalista.
De forma semelhante aos demais países da América latina, o Equador também sofreu um golpe de Estado organizado pelo imperialismo, sobretudo norte-americano. Foi assim que a esquerda nacionalista, do movimento da Revolução Cidadã, do ex-presidente Rafael Correa, tornou-se alvo da ofensiva da direita e do imperialismo. O governo de Lenin Moreno, que traiu Correa, prendeu seu ex-vice-presidente Jorge Glas e perseguiu implacavelmente o ex-presidente, que acabou asilado na Bélgica, devido ao risco de ser preso caso retornasse ao País.
O governo de Moreno se transformou num governo neoliberal, de guerra contra a população, o que gerou um movimento de luta contra o golpe, que naturalmente se agrupou em torno da esquerda nacionalista. Desta forma, as eleições presidenciais se polarizaram entre a direita golpista e a esquerda nacionalista. Esta é a semelhança do Equador com os demais países latino americanos.
No entanto, um componente novo surgiu no Equador, uma candidatura indígena, pseudo-esquerdista, utilizada para tentar enfraquecer a esquerda nacionalista e servir como linha auxiliar da candidatura da direita tradicional. Isto se articulou em torno da candidatura de Yaku Perez (Pachakutik), que até chegou a ficar em 2º durante a maior parte da apuração, mas acabou, por uma margem bem pequena, na 3º colocação na disputa.
Como explicado em coluna do companheiro Eduardo Vasco neste Diário:
“Candidato do partido indígena Pachakutik, Pérez é vendido como um ecossocialista e líder indígena. Ele seria um típico esquerdista pequeno-burguês e identitário. Mas por trás da fachada de esquerdista se esconde um agente do imperialismo.
Em países como Bolívia, Equador e Venezuela, o imperialismo utiliza setores indígenas mais confusos e desorganizados para jogá-los contra a esquerda nacionalista, sob a desculpa da luta ambiental. É um meio pelo qual os monopólios impedem o desenvolvimento industrial desses países, que foi, mesmo de maneira tímida, esboçado pelo nacionalismo.”
Não por acaso, quando da disputa entre o então candidato de Rafael Correa (Lenin Moreno) e o banqueiro Guillermo Lasso, Pérez disse que preferiria um “governo dos banqueiros” a uma “ditadura”.
Foi sob a influência de uma liderança confusionista e direitista como Pérez, que a CONAIE, em 2019, diante do levante da população contra o governo de Lenin Moreno, teve um papel fundamental em conter a insurreição popular, boicotando-a por dentro através de um acordo de paz com o governo golpista. O movimento se chorara contra a sua política neoliberal de Moreno, que levou a aumentos exorbitantes no preços dos combustíveis e no custo da condição de vida dos equatorianos.
Na época, a mobilização foi tão grande que obrigou os golpistas a mudarem a capital de Quito para Guaiakyll, dado que o povo, enfurecido, enfrentou-se com o aparato de repressão e ocupou a então sede do governo federal. O levante popular colocou o governo em xeque, vários ministros caíram e o governo ficou por um fio. Foi neste momento de enorme crise que se viu o papel reacionário do movimento de Yaku Pérez, que costurou a trégua com o governo de Moreno, o que resultou na sobrevida do governo golpista do Equador e na derrota da insurreição.
Portanto, no final das contas o chamado ao voto nulo por parte da CONAIE é na verdade um voto na direita golpista, porque eles não chamam o voto nulo através de uma perspectiva de classe contra a burguesia e o imperialismo, como uma alternativa classista ao nacionalismo burguês, mas sim claramente por um acordo com Yaku Perez que é capacho dos banqueiros e aliado de Lasso.