Em mais de um ano de pandemia, muita coisa mudou. Os mortos se multiplicaram, os desempregados e famintos também, assim como as promessas demagógicas de Bolsonaro, governadores e prefeitos. Mas uma coisa não mudou: a infraestrutura pública de saúde, sucateada e destruída por décadas de política econômica neoliberal no País.
Os hospitais de 18 capitais do Brasil estão com mais de 90% de lotação há duas semanas. Após mais de 300 mil mortos pelo COVID-19, não se investiu na construção de novos hospitais, de UTIs, na compra de leitos. Até mesmo os hospitais de campanha — uma solução que comprova a falta de infraestrutura no País — foram absolutamente abandonados há meses.
Faltam médicos também. O presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul, Gerson Junqueira Júnior, disse ao jornal reacionário O Estado de S.Paulo que a demanda atual pode chegar a 40 mil profissionais que trabalham em UTIs, sendo que hoje o País tem somente a metade.
As escolas de Medicina do País sempre foram reduto de uma elite burguesa e pequeno-burguesa, fazendo com que, inevitavelmente, a mão de obra nessa profissão seja escassa. E a própria categoria médica, por ser formada por esses elementos burgueses, impede sua popularização, a fim de manter a baixa oferta para que os salários permaneçam altos.
Esse foi um dos motivos pelos quais o então presidente recém-eleito de modo fraudulento, no final de 2018, expulsasse os médicos cubanos e enterrasse de uma vez por todas o Programa Mais Médicos — já atacado quando de seu início no governo Dilma por toda a direita nacional, e mais ainda após o golpe de 2016.
Ainda em reportagem do Estadão, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Mario Scheffer, afirmou que há uma “má distribuição geográfica, concentração no setor privado, baixa qualificação e, principalmente, má gestão desses recursos humanos de alta especialização”. Segundo ele, “há uma fragmentação e precarização de contratação de recursos humanos via OSs (Organizações Sociais)”.
As OSs são uma forma de privatização da saúde pública, um dos muitos artifícios utilizados pela direita neoliberal para entregar o sistema de saúde aos capitalistas. Primeiro, sucateia-se, retiram-se os investimentos, destrói-se o sistema público de saúde. Depois, a imprensa burguesa realiza uma feroz campanha propagandística mostrando o estado da infraestrutura e apresentando a opinião de “especialistas” comprados por ela para dizer que é preciso privatizar a fim de voltarem a funcionar. Prepara-se, assim, o terreno para o fim do sistema público e gratuito, voltado agora ao lucro dos grandes empresários.
Pacientes estão sendo transferidos de lá para cá, daqui para lá, porque não há estrutura na maioria dos locais. Não há leitos, respiradores, equipamentos de intubação.
Uma contradição é que, em algumas cidades, há leitos suficientes, mas faltam remédios. “Faltam sedativos no mercado. Os estoques foram baixando e chegamos ao nível de colapso, quando não tem”, disse o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, do PSDB – sendo o seu partido justamente o principal responsável pelo sucateamento da saúde.
Trata-se de um crime fechar leitos. Precisam ser utilizados. Se não há profissionais, os governos precisam contratar imediatamente para tratar os pacientes nos leitos subutilizados.
Desde o início sabia-se que a situação seria calamitosa. Por que Bolsonaro, governadores e prefeitos não fizeram nada? Não se trata de uma catástrofe inevitável, mas sim de algo perfeitamente controlável. Não se investiu em infraestrutura, porque isso resultaria na utilização de dinheiro público, do orçamento federal, que eles se comprometeram a enviar para a conta dos grandes banqueiros e especuladores internacionais.
Esse é o motivo da falta de infraestrutura: não se quer gastar dinheiro. O dinheiro do povo não pode ir para as necessidades do povo, segundo a direita, e sim para os parasitas da nação.
É preciso investir imediatamente no sistema público de saúde, na compra de remédios, vacina, equipamentos, leitos, construção de hospitais e de toda a estrutura necessária para se combater verdadeiramente o coronavírus. Mesmo que seja preciso derrubar o teto de gastos, endividar-se: danem-se os compromissos ilegais e submissos com os capitalistas, o que interessa é salvar a vida da população.