A polícia prendeu três mulheres no dia 24 em uma casa de prostituição em Manaus após denuncia anônima, por descumprirem as medidas sanitárias estabelecidas pela fase laranja, que determina o fechamento do comércio às 20h e restringe a circulação de pessoas após as 21h. Supostamente, o local estaria promovendo aglomerações, com venda de bebidas e música alta. Contudo, apenas as três mulheres que foram presas estavam no local.
Em uma atitude completamente arbitrária e ilegal, a polícia também apreendeu 900 reais e máquinas de cartões. O que é bastante estranho, visto que quando um comércio é autuado por infringir as regras restritivas da pandemia não é hábito da polícia, ou não deveria ser, limpar o caixa da empresa. A isso só podemos chamar de roubo.
Não é primeira vez que a polícia visita local. No dia 8 de fevereiro, outras oito mulheres foram presas. Mais uma vez, apenas as mulheres estavam no local. Segundo o secretário de Segurança Pública (SSP-AM), coronel Loiusmar Bonates: “Não havia clientes no local, mas provas foram coletadas.”
Se essas mulheres já se encontravam em situação difícil e de vulnerabilidade, colocando-se em risco diariamente, agora não apenas pela violência a que se encontram expostas, mas também pelo risco de contrariem a covid-19, também tiveram retiradas sua liberdade e o dinheiro de seu trabalho.
Se a polícia já desrespeitava os direitos das pessoas em situação vulnerabilidade, com as medidas sanitárias impostas pela pandemia, a situação só piorou. Sob o pretexto de proteger a população do vírus, toda e qualquer violação dos diretos individuais estão autorizadas, especialmente os direitos da população pobre.
Enquanto essas mulheres são privadas de seu sustento, sem qualquer ajuda do Estado, outros setores não-essenciais, que certamente geram aglomerações muito mais significativas e perigosas para transmissão do Corona vírus, seguem abertos e autorizados a funcionar.
Vale lembrar que Manaus tem um dos mais importantes polos industriais do Brasil, a chamada Zona Franca de Manaus, que oferece inúmeros benefícios fiscais para empresas que se instalarem na região. A exceção de uma empresa ou outra, que paralisaram suas atividades nos primeiros 15 dias da pandemia, essas indústrias seguiram funcionando durante toda a pandemia, inclusive no auge do colapso do sistema de saúde de Manaus. E, apesar de toda crise, as indústrias da ZFM tiveram crescimento e fecharam 2020 com saldo positivo.
Não tiveram a mesma sorte os milhares de manauaras que perderam suas vidas para Covid-19, e tantos outros que perderam a vida não para covid-19, mas pela falta de assistência.
Apesar de todo esse crescimento, a cidade segue predominante pobre, sem acesso a condições básicas de saúde, educação e infraestrutura. Enquanto isso, a polícia segue perseguindo trabalhadoras pobres que não têm outra alternativa se não se arriscar em troca do seu sustento.
Mais uma vez a velha demagogia burguesa vence, sempre responsabilizando a população pelo crescimento exponencial da pandemia, nunca por falta de políticas de públicas, nunca por causa de transportes lotados, nunca devido às empresas que reúnem milhares de trabalhares diariamente em ambientes fechados. A mesma burguesia que adora fazer demagogia quanto aos direitos das mulheres, criando cada vez mais leis supérfluas para protege-las, prende e rouba as mulheres que mais precisam de proteção.