O jornalista do Jornal de Brasília Hélio Doyle publicou recentemente um artigo no portal de notícias do Brasil 247 intitulado ‘A esquerda pode levar Lula ao segundo turno, mas não o elege’ onde defende uma fórmula que foi responsável pela derrota eleitoral em 2018 e a fraude que levou Jair Bolsonaro à presidência da República.
O artigo afirma que Lula seria o melhor candidato e que possivelmente iria para o segundo turno, mas devido às pautas esquerdistas e o ‘alto nível de rejeição ao PT e a Lula’, perderiam facilmente as eleições no segundo turno. Propõe para isso, a mudança de pautas que não assustem a direita ‘progressista’ e a tal da frente ampla, que o autor propõe como ‘frente progressista’, com setores da direita e do chamado ‘centrão’.
Hélio Doyle diz que “O programa de governo, pois, tem de refletir essa realidade. Não vivemos uma situação pré-revolucionária, a revolução social não está no horizonte e o socialismo não bate às nossas portas. É mais realista, com a derrota de Bolsonaro, pensar em um governo democrático e voltado para a busca do desenvolvimento em todos os campos, da justiça social e da superação das desigualdades sociais e regionais, e de uma política externa independente”.
A citação acima demonstra que o autor considera que a derrota eleitoral do PT em 2018 e o golpe em 2016 foram fruto da política colocada em prática pelo PT que gerou um enorme descontentamento e repúdio da população e dos trabalhadores. É evidente que essa afirmação é errônea e serve apenas para justificar o golpe e a ascensão de Jair Bolsonaro sem citar seus ‘padrinhos’, como a direita hoje batizada de “centrão”.
O repúdio ao PT não vem dos trabalhadores e da maior parte da população, como vimos desde as eleições de 2014, passando pelo golpe e as eleições em 2018. A burguesia brasileira entreguista se aliou com a burguesia imperialista para dar um golpe num governo nacionalista burguês, na qual o PT era o principal representante. Através de uma enorme campanha da imprensa golpista, da Operação Lava Jato, do juiz Sérgio Moro e da direita que forma hoje o centrão foram criadas as condições para o golpe de Estado num grande acordo nacional, como disse o Senador golpista Romero Jucá.
O golpe não veio com um repúdio da maior parte da população ao PT, pois se fosse assim não teriam que continuar a campanha contra Lula, prende-lo e impedir que participasse das eleições em 2018. Esquecer todo o processo e colocá-lo apenas como o antipetismo da população é limpar a barra da direita golpista e dizer que não houve golpe.
Outro ponto que pode revelar as intenções do autor em ‘esquecer’ o golpe e a atuação da direita golpista é no trecho que diz “Só um amplo respaldo da sociedade e das instituições democráticas do Estado e da sociedade civil ao resultado das eleições poderá neutralizar esse anunciado movimento de Bolsonaro. O PT e Lula terão de trabalhar para ter esse apoio. Uma eventual e difícil vitória sem respaldo desses setores poderá colocá-los no campo desse novo golpe. E a esquerda será, então, literalmente esmagada”.
Esse trecho mostra a defesa ampla e irrestrita da frente ampla com os setores que são os pais de Jair Bolsonaro e os responsáveis pela chegada do fascista à presidência da República. Para que a política da frente ampla seja aceita pela população e pelos trabalhadores é necessário que o passado sujo e golpista da direita tradicional seja apagado e essa mesma corja seja apresentada como “progressista”, “moderada”, “centro direita”, “científica”, “civilizada” e até mesmo “democrática”. E essa política já foi colocada em prática e mostrou que o único caminho é a derrota, como foi visto durante o processo eleitoral para a presidência da Câmara de Deputados, onde o centrão foi literalmente comprado pelo governo de Jair Bolsonaro.
A mesma tática da derrota como foi visto em 2018
O jornalista Hélio Doyle apresenta a mesma tática “genial” de 2018 que levou a derrota do PT e de toda a esquerda nas eleições. Com a prisão e o impedimento de Lula participar do pleito eleitoral, os “pensadores” da esquerda aplicaram a estratégia genial de imitar a direita golpista para aproximar o eleitorado de classe média direitista.
Em vez de denunciar a ditadura das eleições e o segundo golpe em impedir Lula de participar, onde tudo indicava para ser o principal candidato devido a polarização, lançaram mão de um candidato direitista como Fernando Haddad. Haddad durante todo o processo eleitoral buscou, assim como os golpistas queriam, acabar com a polarização, com propostas conservadoras e chegou até a elogiar a operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro. Em entrevista ao SBT, Fernando Haddad disse que Moro fez um “bom trabalho”, mas “errou em relação ao Lula”, e “acho que, no geral, ele ajudou”.
A idéia do autor, assim como dos gênios da política em 2018, era acabar com a polarização e se mostrar aceitável para a direita num momento de clara polarização e radicalização política que somente pode levar a esquerda a derrota.
Há uma enorme tendencia a polarização e a esquerda não podem negar esse fato que não é controlado por nenhum setor político. A esquerda, em vez de se travestir de direita, deveria aproveitar e apostar todas as suas fichas nesse processo de polarização.
As eleições são um terreno muito favorável a direita golpista devido as manipulações realizadas pela imprensa e pela fraude eleitoral, pois esta controla todo o processo. A esquerda deve apresentar suas pautar e demarcar bem uma posição porque o objetivo não deve ser somente as eleições, mas sim derrotar Jair Bolsonaro, o golpe e toda a direita golpista, incluindo o centrão que não quer derrotar Bolsonaro, apenas controlar seus excessos e conseguir recursos do Estado.
A única saída para essa situação é polarizar ainda mais a situação política, em particular apoiando Lula, e atavés deste fato mobilizar os trabalhadores e a população pobre para derrotar a direita nas ruas, e em consequência dessa luta, no processo eleitoral.