Neste domingo (14), a extrema-direita bolsonarista realizou manifestações políticas em frente aos quartéis do Exército Brasileiro por todo o país. A principal reivindicação era pela intervenção militar com Jair Bolsonaro na presidência da República. Houve cartazes que pediam a decretação do AI-5, fechamento do Congresso Nacional, criminalização do comunismo e “limpeza geral”. Igrejas evangélicas, como a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada pelo pastor bolsonarista Silas Malafaia, participaram da convocação dos atos. No Rio de Janeiro, militares da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), escola de formação de oficiais do Exército, realizaram exercícios militares nas ruas de Resende, Quatis e Porto Real.
A anulação dos processos contra o ex-presidente Lula e a restituição de seus direitos políticos fizeram com que a direita buscasse se movimentar. Os militares, por meio de nota publicada no site do Clube Militar, deram declarações contra a candidatura de Lula e falaram em ruptura institucional e golpe de Estado por parte das Forças Armadas. A imprensa capitalista (Folha, Estadão, O Globo) e os partidos burgueses no Congresso Nacional (PSDB, DEM, MDB, Republicanos, Progressistas, PTB) deixaram claro que a candidatura de Lula não deve ser aceita para as eleições presidenciais de 2022. Há uma unanimidade no conjunto das forças direitistas no sentido de fazer o que for necessário para que Lula não possa ser candidato.
Os atos também demonstram descontentamento com as políticas restritivas e de lockdown, implementadas por prefeitos e governadores, por parte de setores da classe média. Uma parcela significativa de lojistas, pequenos comerciantes e pequenos empresários se posicionam contra as medidas draconianas, que têm como resultado o endividamento e falência deles. Não há qualquer medida de auxílio governamental aos setores médios, abandonados à própria sorte em meio ao aprofundamento da crise econômica.
A política de lockdown sem organização do povo, feita de forma burocrática com repressão policial e sem auxílio governamental, lança a classe média nas mãos do bolsonarismo, que tenta se apresentar demagogicamente como o “defensor dos empregos e da liberdade”
A esquerda não age para mobilizar o povo, nem mesmo diante do perigo de golpe militar. Com a esquerda em situação de total imobilismo, a extrema-direita se sente à vontade para tomar as ruas novamente. Os sindicatos, organizações que existem para defender os trabalhadores, suas conquistas históricas e direitos sociais e democráticos, estão com as portas fechadas em meio aos maiores ataques da história. Isto é, a política capituladora da esquerda abre caminho para que a direita se imponha no regime político.
A restituição dos direitos políticos de Lula e a completa desmoralização da Operação Lava Jato são fatores objetivos da situação política. Com a candidatura de Lula no páreo, os trabalhadores têm uma arma na luta pelo poder político. Não se deve pensar que a candidatura do ex-presidente vai ser aceita pelos golpistas. Pelo contrário, somente é possível garanti-la sob a base de uma ampla mobilização popular. A burguesia vai tentar manobrar institucionalmente para vetar a candidatura de Lula, isto é o que indica a transferência dos processos fraudulentos para Brasília. Os conspiradores da Lava Jato já se pronunciaram contra a medida do ministro Edson Fachin e em defesa do que consideram como o “legado da Operação”. O controle sobre o processo eleitoral é fundamental para que a classe dominante faça com que o aparelho estatal garanta seus interesses políticos e econômicos. Trata-se de manter um regime com uma fachada democrática, formalmente democrático, porém sem intervenção real do povo na luta política. O único fator capaz de desmontar esses planos é a mobilização do povo pela candidatura de Lula.
Se a esquerda não abrir os olhos e chamar o povo à luta, a extrema-direita continuará a ocupar as ruas e organizar um golpe militar. Sendo assim, nem mesmo nas eleições será possível impor uma derrota. Neste momento, a única alternativa real para os interesses da população é Lula. Uma liderança popular não é criação de propaganda. Pelo contrário, é fruto de um processo histórico complexo e da luta de classes. Lula emergiu nas greves operárias e sua principal base de apoio são os sindicatos, principalmente a Central Única dos Trabalhadores (CUT), e a classe operária brasileira. O Partido dos Trabalhadores (PT) é o maior partido de esquerda da América Latina. Isto faz com que esse partido tenha uma força política que também se expressa em âmbito eleitoral.
É necessário destacar que o imobilismo política da esquerda abre caminho para o avanço da extrema-direita bolsonarista. É preciso romper, de uma vez por todas, com essa política capituladora. A candidatura de Lula é o caminho para impor uma derrota ao bloco político golpista, que lançou o país no caos econômico e colapso institucional, retirou direitos históricos da classe trabalhadora, desferiu duros golpes à esquerda e aos sindicatos e é responsável pelo genocídio de mais de 270 mil brasileiros.