“O Silêncio que Canta por Liberdade”, série em forma de documentário, revisita a memória da censura da ditadura militar na música nordestina, com Gilberto Gil e Gal Costa, entre outros cantores brasileiros de carreira internacional. Dirigida por Úrsula Corona, com idealização conjunta com o produtor musical Omar Marzagão, filho do criador do Festival Internacional da Canção Popular. Com oito episódios, a série tem estreia mundial programada para o segundo semestre deste ano, pelo Prime Box Brazil, canal da tevê por assinatura.
A série aborda a ditadura brasileira sob o ponto de vista cultural, com depoimentos de artistas, músicos, produtores e compositores que viveram a censura no Nordeste, numa narrativa para além da já conhecida pelos relatos no Sul e Sudeste. Onde revisitam o impacto da política de censura fascista da ditadura militar na música e na cultura do Brasil, a mesma política criminosa que o governo golpista tenta levar adiante agora. Estruturada a partir de documentos originais extraídos de órgãos brasileiros de censura e imagens de arquivos, a série vai contar também com os depoimentos de músicos, produtores e compositores.
Em 2 de abril de 1964, foi instaurada a Ditadura Militar no Brasil. Milhares de pessoas foram agredidas, torturadas e assassinadas e outras tantas desapareceram, com a desculpa e a demagogia de que iriam limpar o país. Pura hipocrisia, pois o que eles queriam implantar mesmo era um regime fascista para defender a alta burguesia e esmagar o trabalhador, ou seja, uma ditadura militar burguesa. Com o cerco se fechando por todos os lados, inclusive para o setor musical, a censura tentou calar a voz daqueles que queriam se manifestar contra a burguesia fascista e genocida.
Mas de alguma forma, alguns músicos encontraram um jeito de se expressar e colocar a sua angústia para fora, com palavras codificadas, expressões metafóricas, mas claras para quem as ouvia. Como exemplo disso a canção Cálice, composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, que reflete a situação que se vivia na época. Pois a música traz referências ao Santo Cálice de Cristo e a uma passagem bíblica: “Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue”, mas é uma metáfora com o verbo “calar”, ou seja, a censura que os artistas estavam passando na época.
Úrsula explica: “a gente sempre tem um cuidado de tentar que as próximas gerações entendam o nosso legado por meio da cultura”. “Sabíamos muito da história dos artistas que estavam no Sudeste, mas não conhecíamos o que ocorreu no Nordeste. Fomos pesquisar e encontramos histórias fragmentadas. Então, decidimos fazer uma série investigativa, em que pudéssemos montar esse quebra-cabeça”, continua a diretora. Mas, o mais importante foi o que ela indicou: “A cultura fala no coração do povo. Isso pode ser uma ameaça. E naquela época, ela foi ameaçadora”.