Em discursos nas tribunas parlamentares, nos sites e postagens de dirigentes e destacados militantes da esquerda pequeno burguesa, não faltam saudações e louvores à necessidade de uma greve contra o crime da volta às aulas e às vezes até o “apoio” à mobilização dos professores estaduais e municipais paulista que, desde o último dia 5, revolveram se mobilizar contra a politica genocida política dos governos do Estado e da Capital, bem como de centenas de outras cidades e Estados, que resolveram decretar o retorno às aulas presenciais, no momento de explosão de casos da Covid-19 que pode estar dando lugar à maior alta de caso de toda pandemia: com média de mais de mil mortos por dia há mais de um mês.
Na Assembleia Legislativa de São Paulo, por exemplo, o deputado Carlos Giannazi (PSOL), discursou:
“Quero manifestar meu total apoio à greve sanitária.. É um movimento em defesa da saúde da comunidade escolar”.
“O lema da greve sanitária é ‘escola fechada, vida preservada“”.
Em artigo publicado no seu site Esquerda Online (9/2/2), intitulado “Professoras e professores de São Paulo estão em GREVE PELA VIDA”, os integrantes da diretoria da APEOESP e militantes do PSOL, João Zafalão e Richard Araújo, da corrente Resistência, anunciam que,
“as professoras e professores decidiram deflagrar uma greve sanitária, que tem como pauta a defesa da vida e a luta pela vacinação de toda população já. Não aceitaremos que o governo ameace nossas vidas, da juventude e das famílias trabalhadoras para defender os lucros das empresas da educação privada, que estão há meses tentando impor a volta às aulas presenciais diante da queda das matrículas durante a pandemia”
Em nenhum dos casos, os psolistas anunciam que defenderam o adiamento do início da greve e, tampouco, há qualquer publicação ou discurso posterior em que expliquem porque poucos dias depois passaram a defender abertamente o fim da greve, como pode ser constatado nas atas das reuniões da diretoria da APEOESP e na da assembleia regionalizada que votou pelo fim da greve, a do Bloco 1 da Capital, na qual os dirigentes do PSOL, do PSTU, PCdoB e PCB defenderam o fim da mobilização sob os mais variados argumentos; em geral, procurando responsabilizar a ala majoritária da diretoria da APEOESP (PT/Articulação/PCdoB), por não impulsionar a greve que eles queriam terminar.
No artigo, os sindicalistas do PSOL, ainda reclamam que
“o PCO publicou artigo acusando o PSOL e em particular a corrente RESISTÊNCIA de ser contra a greve da educação em São Paulo.”
Não encontrando fatos e argumentos para refutar a realidade, os ex-integrantes do PSTU e do grupo que há mais de 20 anos integra a diretoria da APEOESP e ainda se disfarça de “oposição” fogem do tema “acusando” o PCO sobre outros supostos crimes:
“São tão bizarros, que citam a eleição do presidente da Câmara dos Deputados, alegando que o PSOL lançou candidatura para “enganar” pois queria apoiar a direita liberal. Os delírios do PCO viraram rotina, como o agradecimento a TRUMP ou uma suposta conspiração imperialista contra Neymar.”
E ainda apresentam fatos de “outro mundo” que nada tem a ver com a greve real, que os dirigentes do PSOL agem a olhos vistos de toda a categoria para acabar.
“Os fatos falam por si. O PSOL tem 10 deputados federais, que são linha de frente da luta pela vacinação já para toda população … e contra o retorno presencial das aulas antes da vacinação.”
“Aqui em São Paulo temos 3 deputadas e 1 deputado estadual na linha de frente dessa luta, assim como nossas vereadoras e vereadores em todo o estado de São Paulo. Nossa militância é vanguarda nos piquetes e na construção da greve, o que qualquer professora ou professor sabe.”
Nem cabe argumentar aqui sobre a inútil atuação dos deputados do PSOL junto ao Ministério Público, à Comissão de Ética da “ética” Câmara dos Deputados etc., pois isso – obviamente nada tem a ver com política pelega do partido de defender o fim da mobilização que, mesmo com muitos limites – que a Corrente Educadores em Luta/PCO vem criticando à exaustão, propondo a greve total contra a “greve sanitária” defendida pela diretoria unificada, propondo atos, comandos etc. – mas os professores e ninguém conseguirá entender ou mesmo enxergar onde estavam esses senhores parlamentares na hora de lutar pela mobilização da categoria e porque a “vanguarda nos piquetes e na construção da greve” são os defensores número 1 do fim da greve, arrastando consigo setores da esquerda pequeno burguesa que não querem mobilizar os professores e nenhum setores dos explorados pelos mais diversos motivos.
É o caso, por exemplo, do PCdoB, que junto com o PSOL se posicionou pelo fim da greve na assembleia regionalizada, depois de tê-la defendido na diretoria, ao mesmo tempo em que seus dirigentes estudantis se reunem com secretários de Educação do PSDB e outros para organizar a volta às aulas. O PCdoB – por certo – poderá também apresentar o número de seus vereadores e deputados, mas isso não mudará a realidade e o ato de que não há nenhuma luta do movimento estudantil, por ele dirigido em favor da greve e contra a volta às aulas.
Não será pura coincidência que os mesmos setores principais que se unificam na defesa do fim da greve – PSOL e PCdoB – são defensores e praticantes da politica de frente ampla, com Doria, FHC, PSDB, Rede Globo, PSD de Kassab e outros setores da direita golpista, que se apresentam como uma suposta alternativa eleitoral a Bolsonaro.
Outros como os “combativos” PSTU e PCB (e pequenos grupos que se consideram revolucionários, mesmo defendendo sempre o recuo e acompanhando essa esquerda capituladora), dirão que não defendem a greve por culpa do PT, da Articulação, maioria na direção da APEOESP.
Veja-se o caso do MRT, que se juntou ao PSOL na defesa do fim da greve anunciando que o problema é
“a forma como o que a direção majoritária da Apeoesp (PT e PCdoB) vem conduzindo a greve da categoria até o momento, que na última assembleia (12/02) defenderam uma posição que na prática interrompe a greve na categoria”.
Ou como anuncia a dirigente do PSTU/Conlutas, Flávia Bischain, para quem
” a greve sanitária segue sendo uma necessidade, porém a categoria ainda não entrou majoritariamente em greve. “Há desconfiança na direção do sindicato e faltou construir a greve pela base. É preciso fortalecer o movimento para defender a vida”,
Apesar dessa política de “arrego”, as assembleias regionalizadas da APEOESP, com a participação (virtual) de cerca de mil professores decidiram pela continuidade da greve da categoria, e está sendo chamada – pela primeira vez desde o início da mobilização – uma atividade pública, para o próximo dia 26, na Avenida Paulista.
Isto porque, as duas alas da diretoria, lideradas pelo PT/PCdoB e pelo PSOL/PSTU defenderam que não haja assembleia presencial e nem mesmo híbrida (com a participação presencial dos que possam e online dos demais), foram contra a greve total e promoveram a divisão da categoria entre trabalhadores presenciais e trabalhadores remotos etc.
A greve é mais do que necessária e urgente em meio a uma situação em que em poucos dias de aulas presenciais, já há mais de mil infectados e dezenas de mortos, incluindo professores, funcionários, alunos e diretores como vem denunciando Educadores em Luta.
Se a participação é pequena por falta de uma ampla divulgação por parte da diretoria, por entraves burocráticos (credenciamento prévio) e da sabotagem de setores da direção (que se disfarçam de “oposição”, mesmo estando na diretoria há mais de 20 anos, como o PSTU e PSOL). A maneira de reverter essa situação não é – obviamente – defendendo o fim da greve, como faz o PSOL e seus aliados, mas lutando pela superação da politica de derrotas de toda a burocracia.
Contra a politica de recuo permanente dessa esquerda que não quer lutar e só se mobiliza quando seus próprios interesses estão em jogo, como nas eleições sindicais e parlamentares, é preciso repudiar essa política, formar comandos de greve, com professores da base em todas as regiões, unindo todos do Estado e do Município que queiram lutar.
É preciso parar 100% as escolas e todo o trabalho remoto, com greve total, até que o governo feche as Escolas e negocie com representantes da categoria as condições para o trabalho remoto, com fornecimento de equipamentos, internet grátis etc. para educadores e alunos.
A situação, uma vez mais, nos remete ao exemplo do socialista e deputado italiano Giacomo Matteotti que, durante o período em que o fascismo ainda se estruturava, notabilizou-se por defender “a coragem de ser covarde”, defendendo no começo da década de 20 o desarmamento das organizações que, ao contrário de ceder ao terror fascista, enfrentavam-nos com muita bravura.
O resultado do triunfo dessa política nada “bizarra” foi que o próprio companheiro que a formulou acabou assassinado em 1924 e o país mergulhou no inferno do fascismo.
Os que defenderam o golpe de 2016, como “Fora Dilma, fora todos”, junto com a direita, agora querem fazer discursos e achar pretextos para não lutar contra o genocídio promovido por Bolsonaro, Doria, Covas e Cia.
Refutamos essa coragem de ser covardes.