Nesta terça (9) o resultado das eleições presidenciais no Equador, com 99,44% das urnas processadas, dava como vencedora do 1º turno a esquerda nacionalista do economista Andrés Arauz, que marcava 32,09% dos votos (mais de 2.646 milões de votos). O candidato do ex-presidente Rafael Correa agora aguarda quem será o seu adversário no 2º turno. O indígena, ecossocialista Yaku Pérez, que marcava 20,06% ou o banqueiro Guillermo Lasso, candidato da direita que com 19,63% se mantém em empate técnico, segundo dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
A esquerda nacionalista de Rafael Correa
Arauz, o candidato nacionalista, do partido UNES (Unidade pela Esperança), tem como programa a retomada dos investimentos públicos para o combate à pandemia e o suporte à população, que está desempregada e sem renda. Uma de suas principais promessas de campanha é injetar US$1 bilhão de dólares em pagamentos diretos à população, uma espécie de auxílio emergencial, só que muito superior. O candidato do ex-presidente Rafael Correa, também afirmou que vai rejeitar as condições de um pacote de financiamento do FMI de US$6,5 bilhões de dólares.
A direita golpista neoliberal
Guillermo Lasso é um banqueiro, neoliberal, um candidato da direita tradicional. Uma espécie de sucessor não dito do atual presidente golpista Lênin Moreno, que até lançou uma candidata, mas tem em Lasso a continuidade do seu programa neoliberal. Os ataques do governo golpista de Moreno contra a população enfrentou enorme resistência e quase foi derrubado pela mobilização popular. Logo, ainda que não se apresente como um sucessor de Moreno, Lasso defende um programa que é a continuação do que o povo equatoriano repudia.
A esquerda “ecossocialista”
Já o indígena e ecossocialista Yaku Perez, que neste momento está em 2º na apuração, por uma pequena margem, é uma espécie de candidato da esquerda pequeno-burguesa neoliberal. Sob a bandeira da ecologia e da antimineração, Pérez é o verdadeiro azarão desta eleição. Ele apareceu para a política nacional como um opositor do movimento da Revolução Cidadã, de Rafael Correa e nas últimas eleições se juntou a Lasso e a partidos de direita contra o ex-presidente nacionalista.
Um outro aspecto que deixa claro o significado da sua candidatura é que Pérez é um candidato do combate à corrupção, que defende o neoliberalismo. É uma candidatura de esquerda a serviço da direita golpista, que diante da impopularidade de Moreno e de Lasso, aparece como uma alternativa do imperialismo ao candidato da esquerda nacionalista, apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa, perseguido pelo golpe de Estado.
Para entender melhor:
¿Quién es Yaku? El candidato que quieren imponer como segundo en las elecciones de #Ecuador.
Veamos a Carlos Pérez, alias Yaku, en 3 momentos.
Momento 1: (2017) "Es preferible un banquero que una dictadura", afirma Yaku en favor de Lasso en las presidenciales de entonces. pic.twitter.com/n2Xru8lIvP
— ✽ Orlenys 🍁🍃 (@OrlenysOV) February 8, 2021
Momento 2: (2020)
Yaku declara contra Evo Morales y Bolivia, dice que "los fraudes electorales tienen que parar" y llama "dictadorzuelas" a los gobiernos de Venezuela y Nicaragua. pic.twitter.com/TU6GjuKzLr
— ✽ Orlenys 🍁🍃 (@OrlenysOV) February 8, 2021
Momento 3: (2021)
Yaku se alinea completamente con la narrativa derechista internacional de la OEA.
"Aráuz es el Maduro del Ecuador", dice, acusando de autoritarismo al gobierno venezolano y sugiriendo la intervención en Venezuela.
¿Cómo se llama la obra? pic.twitter.com/sU5xL3EwBD
— ✽ Orlenys 🍁🍃 (@OrlenysOV) February 9, 2021
A esquerda “democrática”?
O principal candidato após os 3 primeiros é Xaviar Hervas, que fez 15,98% dos votos. O candidato da chamada “esquerda democrática”, uma espécie de PSDB do Equador, Hervas foi uma surpresa nas eleições e já é apontado pela imprensa burguesa como um fiel da balança no 2º turno.
Perspectivas 2º turno
A diferença entre Pérez e Lasso é muito pequena. Segundo informações das autoridades, a apuração ainda levará dias. De qualquer forma, a burguesia irá para o 2º turno buscando unificar as candidaturas de Yaku Pérez, que tem até o momento 1,7 milhões de votos (20,06%), com Lasso, 1,6 milhões de votos (19,63%), Hervas 1,3 milhões (15,98%). Ou seja, somados, os 3 candidatos do regime tem 4,6 milhões de votos (55,67%) contra 2,6 milhões (32,09%) do candidato da esquerda nacionalista, Arauz.
Por isso, apesar da comemoração da esquerda nacionalista e dos seus mais afoitos simpatizantes terem proclamado a derrota do golpe de Estado através das eleições. Tudo indica que se está diante de uma manobra da burguesia equatoriana, apoiada pelo imperialismo, para derrotar o candidato de Rafael Correa no 2º turno. Isto fica claro no fato de que Lasso, Pérez e os demais candidatos minoritários, dos 16 que se candidataram, já sinalizaram que irão contra Arauz no 2º turno.
Pérez, certa vez, chegou a dizer que “antes um banqueiro [Lasso] do que uma ditadura [correísmo]”. Ele também é um candidato de esquerda que apoiou o golpe na Bolívia, no Brasil e no próprio Equador. Em outra oportunidade, mais recente, ele disse que é socialista mas não é comunista, em alusão a Arauz/Correa.
Portanto, ainda não se sabe quem irá para o 2º turno, mas a burguesia atuará para impedir que a esquerda nacionalista, vítima do golpe e que ainda carrega o maior apoio da população, volte ao governo apoiado na mobilização popular.