As eleições para a presidência da Câmara, ocorridas na última segunda-feira (1º), foram um aprendizado importante para os setores da esquerda que ainda nutriam ilusões no “anti-fascismo” da burguesia e da direita tradicional. O candidato apoiado por Bolsonaro, Arthur Lira (PP), venceu a votação no primeiro turno com 302 votos, em segundo lugar ficou o candidato de Rodrigo Maia, Baleia Rossi (DEM), com 145 votos. Eram os dois candidatos majoritário para essas eleições.
A derrota de Baleia foi particularmente desmoralizante porque vários partidos de esquerda, como PT, PC do B e PSOL, haviam declarado apoio a ele ou até entrado no seu bloco, em troca de um cargo na mesa diretora da Câmara. Os setores militantes e combativos da esquerda nacional assistiram a esse espetáculo grotesco e viram seus parlamentares se desmoralizando a cada justificativa fajuta que davam para o apoio a um dos setores mais ativos na articulação do golpe de 2016. Baleia Rossi é afilhado, inclusive, de Michel Temer. Mas isso não parecia importar para os deputados de esquerda porque estes tinham a certeza da vitória de seu candidato, que contava com o apoio de toda a direita tradicional, com partidos como MDB, PSDB, DEM, PSL, PV e muitos outros em seu bloco.
No entanto, nos últimos momentos antes das eleições, o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro passou a comprar o apoio dos deputados ao seu candidato, Arthur Lira, e a candidatura de Baleia se esvaziou totalmente. A partir daí, houve a debandada total dos deputados da direita tradicional. Uma parte grande dos deputados dos partidos que apoiavam Baleia passou para o lado de Lira. A crise chegou ao ponto de Rodrigo Maia ameaçar deixar o DEM, seu partido, por conta da ação dos deputados. As lideranças de partidos como PSDB e MDB foram obrigadas a liberar a votação de suas bancadas, para diminuir a desmoralização.
Esse acontecimento é um demonstrativo do verdadeiro destino da política de “frente ampla”, que é, nada mais nada menos, do que o apoio da esquerda a um candidato da direita, a fim de, supostamente, derrotar Bolsonaro. A votação da Câmara mostra que, ao menor sinal de uma possível derrota, toda essa direita irá correndo para baixo das “saias” de Bolsonaro. Enquanto isso, a esquerda se desmoraliza tendo apoiado um verdadeiro vigarista político, inimigo do povo. Tudo sob a falsa justificativa da luta pela “democracia” e da luta “contra o fascismo”, ao lado dos principais candidatos da burguesia, “pais” do fascismo e de Bolsonaro.
A esquerda deve observar o que aconteceu na Câmara para não repetir o mesmo erro nas eleições presidenciais de 2022, pois há uma grande possibilidade de a burguesia tentar realizar a manobra do “Joe Biden brasileiro” e procurar fazer as lideranças de esquerda apoiarem e ajudarem a impulsionar seu candidato preferencial, sob a constante ameaça de uma possível vitória de Jair Bolsonaro.
É o que acontece, por exemplo, com o atual governador de São Paulo, João Doria. O apoio tímido da esquerda a ele se dá através de uma grande propaganda da vacinação farsesca prometida por ele e que até agora não ocorreu. É um ensaio da frente ampla a ser realizada nas próximas eleições presidenciais, com Doria como um de seus mais prováveis candidatos. No entanto, as últimas pesquisas revelam que, mesmo com essa propaganda toda, Doria permanece extremamente impopular, e Bolsonaro segue sendo o candidato preferencial da direita. Se a coisa continuar assim, toda a burguesia irá procurar reeleger o fascistas nas próximas eleições.
Uma importante prova disso é a declaração dada por Fernando Henrique Cardoso em uma conferênca do Credit Suisse, em que ele declarou que, caso haja disputa entre Bolsonaro e PT no segundo turno das próximas eleições, é muito provável que vá haver a reeleição. Ou seja, o bloco político dele irá apoiar Bolsonaro nessa situação.
Tudo isso mostra que a esquerda precisa abandonar, de uma vez por todas, quaisquer esperanças no “anti-fascismo” da direita tradicional. A campanha extremamente incipiente da burguesia pelo “fora Bolsonaro” nesse último período, não tinha a intenção de realmente impulsionar a sua derrubada, mas sim de pressioná-lo ou de procurar desgastá-lo para as próximas eleições. Prova disso é que, após a vitória de Arthur Lira, a campanha pelo “fora Bolsonaro” da direita diminuiu bastante de intensidade.
Nesse sentido, é extremamente grave que a esquerda apoie e faça propaganda para os candidatos da direita como João Doria. Primeiramente porque é uma gigantesca desmoralização, visto que ele faz parte de um dos setores mais nocivos da política nacional e também é um verdadeiro genocida, sendo responsável pela morte de mais de 50 mil pessoas por conta do coronavírus. Isso sem falar em todas as pessoas assassinadas pela Polícia Militar por ele liderada. Segundo que é muito provável que toda essa política da frente ampla afunde e a direita a abandone para apoiar Bolsonaro, deixando a esquerda a ver navios, como fez no caso Baleia Rossi. Nas eleições de 2022, o único posicionamento verdadeiramente combativo e que pode impôr uma derrota ao golpe de estado é a defesa do fim da Lava Jato e da restituição dos direitos políticos de Lula, possibilitando que ele seja candidato nas próximas eleições, o que impulsionará a mobilização popular, colocando em xeque toda a política dos golpistas.
