Obra completa da poeta norte-americana Emily Dickinson (1830-1886), considerada como uma das maiores poetas da américa do norte, é traduzida para o português e lançada para o público brasileiro. O trabalho de tradução foi liderado por um professor da Universidade Federal Fluminense (UFF): Adalberto Müller.
Müller explicita que o trabalho de tradução durou 7 anos. O primeiro volume, contando com 888 páginas está chegando às livrarias, numa parceria das editoras da Unicamp e da UnB, porem já está disponível para compra nos sites da livraria da Travessa e, é claro, na Amazon. “É uma poesia que concilia um mergulho na linguagem com incursões filosóficas por territórios em que poucos escritores foram capazes de chegar”, observa Adalberto Müller em artigo ao “Estadão”, professor de teoria da literatura da UFF. Isso demonstra a capacidade do meio acadêmico brasileiro, mesmo no período pós-golpes de cortes orçamentários eternos a o meio universitário e ao completo desincentivo e destruição da ciência brasileira. A primeira edição vem com notas explicativas e também com outras versões do mesmo poema. As margens das páginas contêm as alternativas (palavras ou expressões) que a própria Emily Dickinson anotava, como possíveis substituições a serem feitas.
A poeta norte americana passou muito de sua vida isolada em sua casa em Amherst, Massachussetts, sendo considerada excêntrica pela comunidade onde vivia. Muitas de suas relações e amizades ocorriam por correspondência. Em vida, publicou apenas 10 poemas, todos divulgados pelo jornal. Após sua morte, sua irmã descobriu cerca de 1.800 poemas manuscritos em seu armário, escritos ao longo dos últimos 30 anos da vida da autora.
Os poemas publicados na época eram editados para corresponder as regras convencionais de poesia, fazendo com que seus poemas fossem específicos de sua era: continham poucas linhas, sem titulo, geralmente com rimas entre as linhas. O que torna os versos de Dickinson tão singulares é o refinamento de sua linguagem – ao mesmo tempo em que seus poemas trazem ecos de clássicos, como Shakespeare, sua dicção é moderna, como mostra o uso de pausas, vazios, assimetrias e travessões, recurso gráfico usado mais para criar intervalos entre palavras do que inserir apostos nas frases e que se tornou uma de suas marcas mais conhecidas.
“apesar de haver escrito na segunda metade do século 19, Dickinson é bastante contemporânea, pelos temas de que trata (fama, anonimato, fobia social, amor lésbico, crise religiosa, preocupação ambiental). Por isso, da mesma forma que buscava a beleza, capaz de arrepiar, ela buscava a verdade dos fatos, inclusive científicos — tinha um conhecimento incomum de botânica, astronomia e geologia. Ela também escreveu sob o impacto da Guerra Civil (1861-1865) e da ‘polarização’ extremista. Seu pai e amigos eram abolicionistas, lutavam pela causa indígena e Emily conviveu com imigrantes” Assinala Müller, o tradutor da obra.