O cancelamento é o ato de repudiar, xingar, boicotar uma pessoa famosa e tem se tornado cada vez mais presente nas redes sociais, especialmente nos meios culturais. Na maioria dos casos, a figura pública é acusada de alguma injustiça social ou crime, muitas vezes sem provas contundentes. E, como punição, é “cancelada”. As ofensas e boicotes chegam a ponto de procurar excluir a pessoa e relegá-la a um verdadeiro ostracismo.
A maioria dos grupos e pessoas que participam ativamente no cancelamento de famosos são adeptos de uma ideologia identitária, e portanto, acreditam que é necessário mudar à força o pensamento e a opinião das pessoas . Por conta de uma suposta injustiça social, segundo o juízo da pessoa ou do grupo, o ato rejeitável é exposto publicamente e é promovida uma campanha de ostracismo contra a pessoa em questão para retirar coisas importantes de sua vida, como por exemplo, o emprego. Na prática, é uma postura religiosa de exigir que os artistas se enquadrem em definições morais diversas das pessoas, o que é uma réplica absurda da inquisição.
Neste processo inquisidor, raramente é analisada a contribuição do famoso para a Cultura, e toda esta perseguição ignora totalmente o que foi feito pelo artista para a sociedade como um todo, em detrimento daquilo que supostamente este teria feito contra uma pessoa, um animal, ou qualquer outra coisa. É óbvio que se trata de uma histeria coletiva pois a atitude não contribui em nada com o esclarecimento político das pessoas.
Pelo contrário, ao impedir que as pessoas falem e se manifestem, a única conclusão é de que o cancelamento é um ato de censura que impede que os temas polêmicos sejam discutidos de forma calma e sensata, com possibilidade de que a pessoa mude de posição. Não é necessário julgar o artista por sua atuação política, mas por sua contribuição artística para a Cultura.
Como toda censura, o cancelamento é um ato político reacionário, não revolucionário. Por exemplo, em alguns casos, comentários de anos atrás feitos e registrados na internet são utilizados para iniciar uma campanha pelo cancelamento, desconsiderando que o famoso pode ter mudado de posição. É preciso que a defesa da liberdade de expressão e dos direitos democráticos seja uma defesa de princípios. Independentemente de qual a opinião, qualquer pessoa deve poder expressá-la, por mais direitista ou preconceituosa que seja.
É importante garantir a liberdade de expressão pois é fundamental para a política e também para a arte. Não se pode censurar uma obra de arte por não concordar com aquilo que ela supostamente representa ou simboliza. Por exemplo, quando um humorista faz uma piada, é preciso defender que ele possa fazer humor, como assinalamos sobre Danilo Gentili, Rafinha Bastos, etc. Assim como um político deve ser livre para se expressar como desejar.