Um dos fatores que contribuíram mormente para a crise social e econômica de grandes proporções em que se encontra o país foi a política da esquerda e das direções do movimento operário de formarem uma frente, ainda que informal, com os setores tradicionais da burguesia, supostamente para combater o fascismo, colocando-se assim a reboque da direita tradicional.
A principal organização operária nacional, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, no ano critico de 2020, não mobilizou os trabalhadores, não formou comitês de defesa dos direitos trabalhistas e comitês de saúde para exigir do governo medidas; nem mesmo apresentou um programa próprio da classe trabalhadora para resguardar os trabalhadores da crise sanitária e econômica. Ao contrário, fechou os sindicatos quando mais precisava a classe trabalhadora, seguindo a política limitadíssima do “fique em casa” da burguesia.
Os trabalhadores que não poderiam parar de trabalhar ficaram expostos ao vírus, outros tiveram salários reduzidos pelas Medidas Provisórias de Bolsonaro, outros, que dependiam do auxílio, ficaram em uma situação de miséria. As organizações da esquerda e do movimento operário, incluindo a CUT, aceitaram passivamente o descaso com a saúde da população por parte dos governos que não fizeram absolutamente nada para conter o vírus, bem como todas as medidas de ataques aos direitos trabalhistas adotadas pelos governos, chegaram mesmo a comemorar e reivindicar para si o auxílio de fome dado pelo governo e pela burguesia a uma parcela da população pobre para conter as tendências de explosão social; e calou-se mesmo sobre os ataques desferidos pelo governo Bolsonaro, como a MP 936/20 que permitiu a redução da jornada de trabalho com redução de salário e mesmo suspensão de contrato de trabalho.
Essa orientação política corresponde a aliança da burocracia sindical das demais centrais (fajutas) com a burguesia golpista tradicional em nome de uma suposta luta contra o fascismo, essa aliança pressionou a direção pequeno-burguesa da CUT que capitulou totalmente e se colocou a serviço desta aliança. Os resultados foram catastróficos para o povo. Centenas de milhares de mortos, milhões de infectados, milhões de desempregados e de miseráveis; uma crise econômica talvez sem precedentes em nossa história e nenhuma oposição organizada aos governos genocidas de Bolsonaro e dos partidos burgueses tradicionais.
Essa política se justifica segundo setores da esquerda pelo combate ao fascismo, que seria o grande vilão. É a política do mal menor. Ainda que o mal que a burguesia tradicional tem causado ao povo seja maior do que o que causou Bolsonaro, são eles inclusive os responsáveis pelo golpe e pela subida da extrema-direita ao poder.
O que se esconde, na verdade, por trás dessa política é o desespero da pequena-burguesia que dirige as organizações de esquerda e da burocracia sindical diante da crise social que leva a desagregação de sua classe ou fração de classe, creem que ao apoiar a burguesia tradicional estão fazendo voltar o regime burguês “normal” a que estão acostumados e que é o seu regime político por excelência. Estão prontos para sacrificar qualquer interesse popular ou a apoiar qualquer medida, mesmo abertamente fascistas, se for no interesse de seu intento, que é desfazer a polarização política, voltar ao “normal”, com Bolsonaro ou outro, e, assim, permanecer em sua posição social privilegiada, o que a direita tradicional falsamente promete em troca do apoio.
A crise social que nos encontramos e a ascensão do fascismo são obras dessa mesma burguesia tradicional, essa burguesia utiliza o fascismo que ela mesmo suscitou para arregimentar apoio da esquerda e impor uma política neoliberal arrasadora, o que vem sempre acompanhada de um regime autoritário. O fascismo, por sua vez, depende do apoio da burguesia tradicional para se estabelecer, o que a burguesia fará se sentir extrema necessidade.
O ano de 2021 promete ser de grandes acontecimentos e abalos sociais devido a gravidade da crise (miséria, desemprego, pandemia etc.), no entanto, já as tendências a conciliação da esquerda e do movimento operário continuam a se manifestar. Se essa política se prolongar, levará a uma catástrofe ainda maior que em 2020.
A CUT, legítima representante da classe operária brasileira, assim como a esquerda nacional tem que romper com essa política pequeno-burguesa, fracassada e catastrófica para o trabalhador. Romper com a burguesia tradicional e denunciá-la como inimigos do povo e impulsionadores do fascismo; colocar-se como liderança das massas trabalhadoras e de todo povo explorado e oprimido no país. Apresentar um programa próprio, independente de reivindicações e mobilizar os trabalhadores. Somente a força das massas organizadas e mobilizadas podem derrotar a burguesia, o fascismo e a política neoliberal.
É necessário organizar um grande encontro nacional da classe trabalhadora para discutir e aprovar um plano de lutas e de reivindicações econômicas, mobilizando amplas massas. Colocar o problema político central, a luta pela derrubada desse governo genocida, pelos direitos políticos do ex-presidente Lula e colocar em debate o apoio a sua candidatura e a realização da maior campanha política da história.
Essa é a tarefa que a CUT tem que cumprir, abandonar a política de conciliação, abrir o sindicatos, enfrentar a direita, liderar a classe trabalhadora na luta contra seus inimigos.