A Literatura de Cordel também conhecida no Brasil como folheto, literatura popular em verso ou simplesmente Cordel é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos. Remonta ao século XVI, quando o Renascimento popularizou a impressão de relatos orais, e mantém-se uma forma literária popular no Brasil. O nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal.
História e Brasil
No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores.
No Brasil, a literatura de cordel é produção típica do Nordeste, sobretudo nos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, do Ceará e da Bahia. Os folhetos costumavam ser vendidos em mercados e feiras pelos próprios autores. Hoje também se faz presente em outros Estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O cordel hoje é vendido em feiras culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos cordelistas.
Cordel no ensino de geografia
Entre os diversos tipos desta forma de expressão, interessou particularmente estudantes de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Julia Queiroz, Kelly Moreno e Leandro da Silva, que realizaram um estudo à partir da produção de cordéis feitos por alunos de uma escola periférica no Rio de Janeiro, com as intenções de compreender as dinâmicas que constituem os moradores da popularmente conhecida como favela.
O estudo foi publicado na revista Geografia, Literatura e Arte e propôs a introduzir novas maneiras de interpretação e análise do espaço geográfico e seus conceitos, no texto, definido não só como “constituído de fenômenos naturais, como também sociais, porque ele sofre constantemente transformações devido às necessidades dos contextos nos quais as sociedades vivenciam ao longo do tempo”, explicam os autores.
Pra ser mais claro, eles estão criando novas formas de ensinar, como deixando de lado o empoeirado tradicional livro didático e valorizando outras formas, outros métodos, no intuito, segundo eles proporcionar um pensamento crítico acerca da leitura de mundo do aluno”. Então a geografia é apresentada junto com a literatura como uma linguagem pensada em compreender as ações que originam a periferia e a violência, tendo como ferramenta a implementação de oficinas para criações de cordel.
Violência retratada na arte do cordel
O projeto foi implementado como Extensão de Oficinas Escolares de Geografia, por alunos do 7o ano, Escola Ciep 439-Luiz Gonzaga Júnior, Luiz Caçador, no bairro de São Gonçalo e expande duras vidas de estudantes de escolas públicas, totalmente esmagados pela violência do capitalismo são assim apresentados aos professores. O cordel é um meio para que os que ensinam possam aprender mais sobre seus alunos e o mundo que eles estão inseridos.
São oficinas experimentais que servem para que os agentes de ensino possam ter maior compreensão ”da realidade dos estudantes por meio de conceitos e conteúdos que trabalhem com as escalas de analise do global ao local”, comentam os autores.
Entre os conceitos habitualmente estudados, de maneira abstrata, pelos alunos como território, lugar, paisagem e região deram lugar a temas mais urgentes e importantes, quer dizer, de maneira concreta e prática: a violência no bairro e a partir dessas discussões os cordéis foram criados.
Esmagamento da juventude pelo capitalismo denunciado
Demonstrando o esmagamento da juventude pelo atual sistema vigente de exploração econômica, o destaque dos autores é “observar que a atividade acabou trazendo o cordel Domo o meio de entender a formação da periferia de São Gonçalo e como a violência gera impacto no/na discente.”
De acordo com o professor Daniel Pereira Rosa, a ocupação do município de São Gonçalo deveu-se à impossibilidade de permanência direta nos centros urbanos, “fazendo do local uma cidade dormitório”. Então ao município coube o papel de periferia, “cidade – dormitório que abrigava o reservatório de mão de obra de trabalhadores com baixa qualificação”, destaca
Diante da pressão do governo Bolsonaro e dos golpistas, atacando a população em vários setores e agora querendo o retorno das aulas presenciais, mesmo em meio a explosão de casos da pandemia, iniciativas como essa devem ser enxergadas como um feixe de luz na escuridão, pois mostram que aos poucos, denunciando a situação de verdadeiro massacre que a juventude e a população vivem, a literatura de cordel e arte em geral estão servindo como um impulso para uma ampla mobilização dos estudantes, professores e trabalhadores em geral, num futuro muito próximo.