As eleições de 2020 garantiram uma maior participação das mulheres nos próximos quatro anos de governo nos municípios. No entanto, o que poderia ser uma grande conquista, pois essa é uma reivindicação do feminismo identitário do campo progressista, precisa ser melhor analisado.
Uma análise rápida nos mostra que os partidos do centro direita e direita lideram o número de mulheres eleitas para prefeitura e vereadoras. O MDB é o campeão de prefeituras em todo o país, seguidos por DEM, PSDB, PSD, PP e PL. Em relação às vereadoras, o MDB lidera com 1265 cargos eleitos, PP 1020, PSD 827, PSDB 710, DEM 656 e PL 571 vereadoras.
Já na esquerda e centro esquerda o PT apareceu no 7º lugar, liderando o campo progressista com 651 mulheres eleitas ,seguido pelo PDT 507, PSB 411, PC do B 122 e PSOL com 31 mulheres eleitas.
Olhando só por esse ângulo, já fica claro que a esquerda nada tem para comemorar, mas olhando por outros ângulos, verificamos a grande demagogia que são as eleições em relação às mulheres.
O feminismo identitário, feminismo liberal, conseguiu cotas a fim de garantir a participação das mulheres na política, ao menos 30% dos candidatos tem que ser de mulheres, no entanto, não pode haver uma chapa só com mulheres…
Em relação às indicações de cargos nas novas prefeituras, onde muitos candidatos prometeram aumentar o número de mulheres nas pastas, vemos um jogo bem articulado em que as mulheres indicadas, na verdade, só preenchem um lugar demagógico, veremos:
Em São Paulo, as mulheres que entraram nas secretarias da prefeitura do Sr. Bruno Covas (PSDB), irão controlar apenas 3,6 % do orçamento público. Às 08 mulheres indicadas para a gestão 2021/2024, no total são 23 pastas, foram indicadas para pastas que possuem menos recursos, apenas 2,5 bilhões, que representam 3,6% dos cerca de R$68 bilhões que compõem o orçamento de 2021, e não estarão à frente de políticas públicas. dessas 08 mulheres 01 é negra.
Em 2020, haviam 07 mulheres ocupando pastas na prefeitura de São Paulo, e com maior orçamento, por exemplo, a Secretaria de Mobilidades e Transporte, sob a responsabilidade da Elisabete França, que ocupou a pasta após a demissão de Edson Caram, devido às reclamações de superlotação nos ônibus durante a pandemia, teve um orçamento de 3,3 milhões, mais do que todas as 08 mulheres irão ter este ano.
Na nova gestão Covas, as mulheres que terão um pouco mais de “poder”, isto é, maior receita e atuação frente a políticas públicas são na Assistência Social Berenice Giannella com cerca de R$981 milhões para cuidar da população de rua e outras ações da pasta, e a secretaria se segurança Urbana com Elza Paulina de Souza, que era inspetor da GCM – guarda civil metropolitana, com R$773 milhões.
Na secretaria da justiça, Covas cumpriu a promessa eleitoral de nomear uma mulher negra. Eunice Prudente, única professora negra da Faculdade de direito do largo São Francisco (USP).
Temos ainda na secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo Aline Cardoso, Direitos Humanos e Cidadania Ana Claudia Carletto, Pessoa com Deficiência Silvia Grecco, Relações Internacionais Marta Suplicy, e na procuradoria geral do Município, Marina Magro.
A Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), informa que 51,7% dos 11,8 milhões de habitantes da capital paulista são mulheres. O total da população que se declara preta ou parda é de 37%, também de acordo com dados da fundação de 2019, portanto essa disparidade é alvo de críticas de estudiosos que defendem que o governo deve seguir a proporcionalidade nos cargos.
Em Recife, João Campos (PSB) tem Isabella Roldão como vice, nomeou Luciana Albuquerque para a Saúde, Maíra Fisher para Secretaria de Finanças, e Habitação, com Maria Eduarda Médicis, indicada do Progressistas, partido que compõe a aliança que elegeu o prefeito.
Em Belém, onde também houveram reivindicações de mais mulheres em cargos de comando durante a campanha eleitoral, as mulheres serão 50% da equipe do prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), ocupando 18 cargos considerando secretarias, coordenadorias e fundações. Destaque para a primeira indigena a fazer parte do primeiro escalão da prefeitura, Márcia Kambeba, que assume a ouvidoria geral do município.
A avaliação geral deste quadro nos leva a se questionar: o aumento do número de mulheres eleitas ou nomeadas para cargos nas prefeituras, devido as reivindicações das políticas de gênero, determinam maiores poderes as mulheres?
A resposta fica bem clara que não, já que vão ocupar cargos de menor poder político, ou no caso da mulheres eleitas pela direita, são conservadoras e irão replicar a política de opressão contra as mulheres, negros e pobres. O aumento da força política das mulheres depende de luta, manifestações e organização, e não acontecerá por força das instituições, especialmente em tempos de golpe de Estado.