Alguns esquerdistas têm se dedicado a atacar o jogador brasileiro, Neymar Jr., mas se calam diante dos golpistas que se articulam na Câmara dos Deputados para a eleição para a presidência da Casa com o apoio da esquerda parlamentar. Esse fato é muito revelador sobre a característica dessa esquerda.
É notável que a esquerda pequeno-burguesa tem sido cada vez mais pró-imperialista em suas posições políticas. Nas questões essenciais da luta internacional, boa parte da esquerda se coloca em aliança com o imperialismo, atacando a Venezuela, a Coreia do Norte e até Cuba, chamando golpes imperialistas de revolução, e apoiando direitistas, como foi o caso da eleição de Joe Biden, nos Estados Unidos.
Essa posição política é resultado de uma campanha ideológica internacional que envolve a esquerda. O neoliberalismo promove as ideologias identitárias e a “democracia” como valor religioso contra as concepções classistas e revolucionárias.
Essa ideologia só poderia resultar em uma colonização também no que diz respeito aos aspectos culturais. É por isso que vem aumentando no meio da esquerda uma repugnância ao futebol, umas das expressões culturais mais genuínas e populares do Brasil. A esquerda pequeno-burguesa acompanha a colonização de seus irmãos de classe, a classe média é o setor mais colonizado e por onde passam as ideologias importadas do imperialismo.
Essa repugnância ao futebol se expressa na aversão aos jogadores brasileiros e que por sua vez representam as camadas populares. Jogadores de futebol não são políticos nem intelectuais nem burocratas do movimento estudantil ou dos sindicatos. Jogadores de futebol são pessoas, em geral, muito pobres que ascenderam socialmente graças à sua habilidade num jogo que é o mais popular do planeta.
O futebol, desde o início, chamou a atenção de setores da intelectualidade, em primeiro lugar da esquerda, por suas características populares e por ser um esporte de criatividade, inteligência e beleza, diferente da maioria dos esportes de força.
Hoje, colonizada em primeiro lugar pelos norte-americanos, a esquerda trata o futebol como coisa de gente inferior e os jogadores brasileiros como representantes de uma barbárie, de uma ignorância, como se fossem os culpados pelas desgraças do País.
É por isso que a esquerda se espanta com a defesa que o Partido da Causa Operária faz do futebol e dos craques brasileiros. É por isso que fica horrorizada e histérica quando o PCO defende Neymar como jogador de futebol. A esquerda perdeu a capacidade de se envolver com o povo e valorizar as coisas do povo, não para fazer demagogia ou ganhar votos, mas de fato como uma defesa de princípios, ou seja, a defesa da cultura nacional e da livre expressão do povo.
Até mesmo as torcidas antifascistas, que são um fenômeno importante e muito interessante que apareceram nos últimos anos, acabam influenciadas negativamente pela esquerda colonizada. Essas torcidas, que deveriam levantar as bandeiras de um futebol popular, ou seja, de fato controlado pelo povo e pelas torcidas organizadas, a defesa do futebol brasileiro que é a verdadeira luta contra o chamado futebol moderno europeu, acabam se perdendo em debates de tipo identitário que absolutamente nada tem de popular e que não tem nenhum interesse para as grandes massas.
É inconcebível para a esquerda pequeno-burguesa defender um jogador de futebol, ainda mais quando ele está o tempo todo sendo atacado na imprensa burguesa. A esquerda está condicionada a defender apenas os seus, apenas os amigos, reflexo de um oportunismo doentio que tomou conta dos partidos da esquerda.
Explicando melhor, como Neymar não é esquerdista nem burocrata de centro acadêmico e aparece em fotos com Bolsonaro, organizando festa de réveillon na pandemia e ganha milhões de salário, está proibido defendê-lo. Isso vale também para os outros jogadores que, em sua maioria seguem esse mesmo padrão, por motivos óbvios já explicados acima.
Até mesmo o rei Pelé, que sempre foi motivo de orgulho para os brasileiros, em primeiro lugar para a esquerda quando esta defendia a cultura nacional e não tão colonizada, é atacado pelos mais variados motivos.
Nenhum desses ataques envolvem o futebol, mas coisas que fizeram fora de campo. Para alguns, basta levantar esses supostos crimes fora de campo, para outros, o comportamento fora de campo seria uma prova da falta de qualidade desses jogadores.
É como julgar o quadro de um pintor pela sua vida e não pelos trabalho artístico em si.
Essa maneira de ver o mundo revela outra característica da esquerda. Além de oportunista, ela é também moralista.
E é por isso que, como dissemos, a esquerda está mais preocupada nesse momento em atacar Neymar do que os golpistas Rodrigo Maia e Baleia Rossi, que estão no bloco pela presidência da Câmara junto com a esquerda.
Todos se voltam contra Neymar e contra as posições do PCO sobre o jogador, mas se esquecem que os verdadeiros responsáveis pela desgraça no País são os golpistas que nesse momento contam com o apoio dessa mesma esquerda pequeno-burguesa que está atrás de cargos no Congresso Nacional.
Pelé pode até ser – nós não concordamos com isso – o mau caráter que a esquerda diz que ele é, mas Pelé nos deu as maiores alegrias como povo. Neymar pode promover festas e até sair em foto com Bolsonaro – condenável? sim – mas se ele nos der uma Copa do Mundo vocês podem ter certeza de que terá feito muito mais pelo povo brasileiro do que os ratos que se encontram hoje no poder, no Congresso, no Judiciário e nos governos.
Não dá para criticar Maia, Baleia e os dirigentes esquerdistas do PT, PSOL e PCdoB por não saberem jogar futebol. Mas a responsabilidade política do que acontece no País é deles, não é de Neymar.
A esquerda parlamentar se esforça para fazer com que os militantes engulam a seco uma aliança com os golpistas na Câmara, ignorando que Maia, Baleia e cia. são os maiores responsáveis por Bolsonaro e todas as desgraças no País, incluindo aí o caos da pandemia, que graças a esses golpistas já matou 200 mil pessoas. Já no caso de Neymar, que nem é político, a esquerda faz questão de atacá-lo e até colocar nele a culpa pela pandemia. Uma mistura de hipocrisia, moralismo e oportunismo.
É bom lembrar que Rodrigo Maia é um dos maiores inimigos do futebol nesse momento. Ele é articulador do projeto do clube-empresa que pretende colocar os clubes definitivamente nas mãos dos capitalistas.
Criticar Neymar por suas posições políticas é fácil, quero ver é jogar bola como ele.