Na última semana, foi divulgado o novo relatório da Rede de Observatório da Segurança, trazendo um balanço dos assassinatos cometidos pela Polícia Militar ao longo do ano de 2019. Segundo os dados, ao menos cinco estados brasileiros detém índices absolutamente desproporcionais no que se refere ao genocídio do povo negro pela polícia: Bahia, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro e Ceará.
Diante do massacre diário dos negros pela polícia, a demagogia da direita costuma se dividir em duas teses, que estão associadas ao mesmo interesse racista da burguesia. Por um lado, setores da direita afirmam que os negros não seriam a maioria da sociedade porque parte deles seriam “pardos”. Uma questão, obviamente, que não tem valor algum: para a mira da PM, pardo e negro é a mesma coisa: a raça dos “bandidos”, “marginais” ou “criminosos”. Por outro lado, setores declaram que os negros só são maioria nos índices relacionados à repressão porque seriam a maioria da sociedade. Os dados do relatório, contudo, põem esse discurso abaixo.
A Bahia é considerada o estado mais negro do País. No entanto, um total de 23,5% de seu povo não é considerado negro. Sendo assim, admitindo o discurso de que morrem mais negros porque há mais negros na sociedade, seria esperado, portanto, que o número de assassinatos fosse mais ou menos proporcional à quantidade de negros na Bahia; Mas isso não é fato: 96,9% das mortos pela PM — praticamente sua totalidade — são negros. O caso do Ceará é semelhante ao baiano: 66,9% de negros no estado contra 87,1% de assassinados pela polícia.
Os casos de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, embora um pouco diferentes do caso da Bahia, também expressam uma realidade alarmante: mesmo nos estados onde a proporção de negros nem é tal alta, o índice de assassinatos é altíssimo. Em São Paulo, por exemplo, que é o caso mais extremado desse fenômeno, os negros sequer chegam a ser maioria.
Se os dados proporcionais em relação à raça já são suficientes para demonstrar a disparidade, os dados absolutos também demonstram o mesmo cenário: em único estado, como o Rio de Janeiro, são mais de 1.800 mortes.
Se a polícia mata tanta gente todo ano, isso é sintoma de uma sociedade completamente desequilibrada: a PM, portanto, não é um órgão que serve para “mediar conflitos”, nem para combater uma “criminalidade” em abstrato: é uma máquina para matar uma parcela da população. E, como fica claro, essa parcela é o povo negro, por motivos óbvios. O negro, afinal de contas, é o setor mais oprimido dentro da sociedade — e, portanto, aquele sobre quem os capitalistas irão despejar todo o peso de sua política de ataques à classe trabalhadora.
Por fim, outro dado revelador sobre a questão do assassinato de negros pela polícia é o fato de que a maioria de seus assassinos são, eles próprios, negros. Na Polícia Militar do Rio de Janeiro, a que mais mata no Brasil, nada menos que 60% de seu contingente é composto por negros. Se contados apenas os oficias, os negros são ainda 42% da corporação. Se contados apenas os soldados sem patente, esse número salta para 66%, Esse dado, inclusive, é suficiente para derrubar as teses identitárias segundo as quais a “representatividade” salvaria o negro da exploração.
Seja com negros no comando, seja com negros segurando os fuzis, a Polícia Militar é uma máquina assassina que tem como principal alvo o negro. Justamente pelo negro ser o setor mais oprimido, a PM, seguindo a típica covardia da extrema-direita fascista, monitora, detecta e aperta o gatilho, de maneira consciente, contra o povo negro. Trata-se de uma verdadeira caça.
A única política para os negros em relação à polícia deve ser o de exigir a sua completa e imediata dissolução, bem como a de organizar a sua autodefesa, com direito irrestrito ao armamento.