A mais recente bravata do governo em relação ao problema das armas deixou setores progressistas escandalizados com uma suposta “ofensiva” pró-armamentista de Bolsonaro. A medida, que zera taxas de importação de armas estrangeiras, é como todo o resto da política sobre o armamento dele, muito discurso, muita demagogia, e nenhuma ação, uma farsa total. Bolsonaro diz ser pró-armamento, mas como todo político burguês, é a favor de armar seus colegas, não defende uma verdadeira política universal do armamento civil.
Os comunistas sempre defenderam o armamento civil, o direito do cidadão comum portar armas como um direito legal. Trótski se referia às guardas vermelhas russas como “porta-estandartes armados da revolução”, ou seja, o povo armado era a coluna vertebral do esforço revolucionário, tendo Trótski inclusive criticado o regime stalinista pela sua posição absurdamente desarmamentista. Os revolucionários jacobinos viam no povo armado uma garantia de direitos fundamentais, um povo armado e mobilizado seria a sua própria garantia de direitos reconhecidos, não ficariam, utilizando nosso Brasil de hoje como exemplo, na expectativa de que 11 ministros burgueses respeitem a carta magna.
Os defensores desta política nunca viram o armamento civil como uma arma de segurança pública contra o criminoso individual, como apresenta a extrema-direita, mas como uma arma de segurança social e política contra o ditador, o déspota.
A direita nunca defendeu uma milícia popular nacional, ou seja, um contingente de massas de homens e mulheres armados e com treinamento militar, preparados para defender a pátria. Um pré-requisito para isso seria a garantia do direito ao armamento para toda a população. Este modelo de segurança nacional, onde o país tem um pequeno contingente de profissionais militares, principalmente oficiais e técnicos, e as tropas, em caso de guerra são a própria população, é muito penoso para a direita, pois coloca muito poder nas mãos dos trabalhadores. Bolsonaro e a extrema-direita atual são amantes do exército permanente de meio milhão de homens, afinal, um corpo armado de assalariados pelo Estado e um povo desarmado é o sonho de qualquer aspirante a ditador.
A decisão de Bolsonaro de zerar o imposto para armas estrangeiras também é mais uma demonstração de outra questão, o capachismo de Bolsonaro perante o imperialismo estrangeiro. A diminuição do preço da arma estrangeira não favorece o armamento de ninguém, o processo de conseguir comprar uma arma continua extremamente burocrático, requer a bênção do Estado para ser aprovado e, ainda mais, os cursos e certificados necessários são abusivamente caros, tirando o armamento legal do alcance do trabalhador comum. Abaixar o preço de um Glock só irá fazer com que os comparsas militares de Bolsonaro possam comprar um brinquedo novo com desconto. A farra de um seleto número de pessoas no País será feita às custas da já cambaleante indústria de armas brasileiras. O complexo industrial-militar do imperialismo norte-americano agradece muito Bolsonaro.
Um país que não arma o povo, e quando falamos de armar o povo não estamos falando de policiais e elementos de classe média com rendas acima de R$ 10 mil, mas das dezenas de milhões de trabalhadores comuns, nunca terá um povo soberano perante seu próprio governo, e um país que não tem uma indústria de armas nacional nunca será soberano perante seus vizinhos ou perante o imperialismo.
A política de armamento de Bolsonaro funciona assim: armar sua base de apoio, desarmar o País.