Participo regularmente de um debate com brasileiros que vivem no estrangeiro e discutimos, nesse final de semana, a inevitável questão: “Lula já era?”. O problema vem sendo colocado com insistência pela imprensa capitalista e pela esquerda partidária da política de frente única com os setores dominantes da burguesia contra Bolsonaro em 2022. Nosso partido apresentou uma resposta clara à questão: é preciso lutar por Lula presidente.
No decorrer da discussão, como em outras que vêm ocorrendo em escala nacional, alguns companheiros expressaram restrições à defesa de Lula. São críticas feitas pela esquerda ao ex-presidente e os governos do PT. Não os julgo. Nosso partido foi o primeiro e mais severo crítico de Lula e dos governo do PT. Fomos, aliás, os primeiros no meio da esquerda a criticar Lula e a direção do PT quando o PCO ainda era a “tendência Causa Operária”, durante os primeiros dez anos de existência do PT.
Eu comecei a militar muito depois disso. Compreendi as críticas feitas pelo meu partido no passado e as que fizemos durante as duas últimas décadas em que militei como um instrumento fundamental na luta política, na luta mais importante e decisiva de todas, a luta pela construção de um partido operário, revolucionário e de massas.
As nossas criticas políticas a Lula e ao PT são fundamentadas na experiência política e na teoria marxista. Nós criticamos Lula mais do que qualquer outro partido, grupo ou indivíduo que se considere revolucionário. Muitos destes, ao longo de todos os anos até a eleição de Lula, se colocaram completamente a reboque dele, apoiaram a sua política, trabalharam para elegê-lo mesmo com divergências.
Dentre as objeções, o fato de Lula ser o principal expoente da política de conciliação de classes, de ter uma política de tipo nacionalista e não socialista, em suma, o fato de que a política de Lula não é a do PCO, foi a que mais me chamou a atenção. Dela deriva uma conclusão: se o PCO defender Lula como candidato à presidência, estará se comprometendo com sua política – e, eventualmente, com o seu governo. Estaríamos confundindo nosso programa com o seu programa.
A defesa de Lula não significa que o PCO abriu mão do seu programa ou vai se diluir no programa de um outro partido. Defendemos a candidatura de Lula justamente por conta do nosso programa. Lula está sendo vítima de um crime. Seus direitos políticos foram cassados. A direita está tentando bani-lo da cena política. Somos defensores ferrenhos dos direitos democráticos do povo.
Muito nos criticam alguns setores da esquerda pequeno-burguesa por termos tomado a defesa de figuras impopulares ou de direita. Não defendemos quem quer que seja pelo que pensam. Temos nosso próprio pensamento. Temos um programa, nos guiamos por ele e não estamos dispostos a trocá-lo pelas ideias de outros. Defendemos Lula sem restrições ou constrangimento por ser ele quem é, isto é, por termos sido adversários públicos durante décadas. A defesa da candidatura de Lula está subordinada a um interesse maior, a saber: o avanço da luta contra o golpe, a intensificação da polarização política no país, a evolução da consciência dos trabalhadores por meio da sua experiência.
Nesse sentido, reafirmo o que está claro no nosso programa: “a plena vigência do regime democrático, representativo, republicano e federal; convocação de uma Assembléia Constituinte, eleita por meio do sufrágio universal e com condições de absoluta liberdade política. Possibilidade de legislação popular direta, por meio do direito de iniciativa, de veto e petição de referendum. Fortalecimento da autonomia dos estados e municípios. Eleição popular e direta de todos os cargos públicos e revogabilidade de seus mandatos“. Esse regime, no entanto, não existe como tal. Por isso, não defendemos Lula “apesar de” termos divergências. Defendemos os direitos políticos de Lula e o direito de toda a população poder votar em quem quiser.