Uma tendência da esquerda pequeno-burguesa do último período tem sido inventar palavras, criar conceitos, desenvolver teses confusas a respeito do racismo, para, finalmente… manter tudo como está.
Surgiu: empoderamento, africanização, afrocentricidade, aquilombar-se, racismo estrutural e institucional, lugar de fala, troca de gênero das palavras, por “x”, “e”, e tantos outros esquemas subjetivos que já perdemos a conta, e causa um tanto de perturbação se formos ver a fundo, mas que defendem a mesma política: a luta individual.
Os “novos” conceitos buscam apresentar um código moral de conduta, para que o cidadão, negro ou branco, qualquer que seja ele, se sinta moralmente repreendido quando pensar algo racista, quando manifestar algo racista. E que por essa auto reprimenda, promova a libertação dele próprio. É relativamente fácil perceber que isso não liberta ninguém.
Dentro do capitalismo, obviamente, a libertação individual só pode ser resolvida com a ascenção social do indivíduo, o que explica a quantidade de lideranças e representantes do movimento negro, cada dia mais e mais, buscando seu lugar ao sol dentro do sistema que dizima quase milhares de negros ao ano, no tiro. O sistema dos golpistas, da repressão dos fascistas.
Professores, educadores, advogados, economistas, funcionários públicos, servidores da imprensa venal, geralmente como colunistas, integrantes da classe média. Mestrandos e mestrados, doutorados, especialistas, todos se lançam em busca de uma migalha caída da mesa da direita, o que é simplesmente vergonhoso. Editais, concursos, é o salve-se quem puder.
As soluções apresentadas por esses grupos não colocam em questão a derrubada violenta do regime dos racistas, única saída possível para que o negro possa ter, de fato, um peso social verdadeiro, um poder político real. As saídas são institucionais (que também não funcionam), e a classe média do movimento negro se apresenta como uma “alternativa”, seja para os racistas, seja para a sobrevivência social dela mesma.
Foi justamente o que aconteceu com Sílvio Almeida, um dos teóricos do racismo estrutural, que foi obrigado a se explicar pelo fato de fazer parte do comitê-farsa do Carrefour de combate ao racismo.
Essa ação se somou à posição escandalosa e covarde de Jones Manoel, que falou que não tinha que ter protesto violento diante da execução de João Alberto, por estrangulamento realizado pelos seguranças do Carrefour. Para Jones, é preciso ficar em casa e esperar que tudo se resolva. A política mais tradicional da esquerda classe média: não fazer nada, até porque, enquanto classe social, ficar paralisado é bem mais a cara dessa esquerda.
A mobilização do povo negro foi abandonada como método de luta. Finalmente, são pobres que não possuem tantos recursos quanto os citados acima, por isso mesmo abandonados por essa esquerda.
Não vamos nem mencionar a imprensa independente. Agora, aparentemente, existe um departamento de recursos humanos da imprensa golpista que está aceitando currículos negros, dos alforriados, para não ficar muito escandaloso ficar apenas com os alemães na imprensa brasileira.
Para que não existam mais casos como o de João Alberto, é preciso mobilizar o povo, por meio de manifestações massivas, de rua, em torno de suas reivindicações mais elementares, como o fim da Polícia Militar e dos aparatos repressivos que massacram o povo negro.
É preciso de organização, de um programa próprio de luta do povo negro, que consiga, efetivamente, por fim ao massacre que sofre a população negra, especialmente depois do golpe de Estado.