A esquerda pequeno-burguesa, como Psol, amplos setores do PT, PCdoB, entre outros, fez propaganda da ideia fantasiosa de que as eleições municipais seriam um passo importante para derrotar o bolsonarismo. O que, evidentemente, não passa de ilusão.
Mas essa esquerda de fato acredita que é possível fazer mudanças muito importantes através das eleições. Logicamente ignoram que o Estado é de classe. Que é uma máquina política controlada pela classe dominante. Seja nos municípios, nos estados, nacionalmente, nas assembleias, Câmaras de vereadores ou no Congresso Nacional.
A situação é ainda pior em se tratando de eleições que ocorreram no marco de uma legislação e situação política totalmente controladas pela direita, pós golpe de Estado.
Uma eleição relâmpago, com uma campanha restrita praticamente à imprensa capitalista, já que a campanha de rua era praticamente inexistente e o horário eleitoral gratuito foi reduzido a um tempo tão curto que virou quase uma formalidade.
Em tais circunstâncias, inclusive no marco do golpe de Estado de 2016, com Jair Bolsonaro no governo, era evidente que a esquerda não teria bons resultados. A esquerda, no entanto, não enfrentou a realidade. Em lugar de ser realista e apresentar claramente que não teriam votos, denunciando o golpe e o caráter antidemocrático das eleições, semearam a ideia de que era possível vencer a direita no seu terreno e o que acabou acontecendo foi um retrocesso eleitoral, não um progresso.
A eleição produziu o de sempre: o bloco de partidos dominantes, os que vieram da ditadura, saídos da Arena e MDB, controla mais da metade das prefeituras do país e manteve esse controle, enquanto os partidos que tendem à extrema direita tiveram sua votação dobrada.
Mas a maior derrota foi o retrocesso na consciência da população causada pela política da busca desesperada pelo voto.
Em primeiro lugar, a esquerda não polarizou nada. O número de abstenções mostra que a eleição foi fria. Nesse sentido, fica claro que a política do Psol não mobiliza nada. É uma política burguesa, sem impacto na situação. Eles simplesmente jogaram o jogo da burguesia.
Em segundo, a esquerda se desfigurou completamente na ilusão de que imitando a direita obteriam mais votos. E o voto seria mais importante do que essa consciência. O que é falso.
Começaram abandonando o vermelho, depois abandonaram as reivindicações tradicionais da esquerda e até o “fora Bolsonaro”.
Boulos em São Paulo falou em contratar mais guardas municipais, reuniu-se com empresários e até mesmo recebeu apoio de alguns especuladores.
Em terceiro lugar, a política da esquerda foi na maioria dos lugares, a de levar a população a apoiar a direita tradicional, do bloco dominante, uma política para levar a população a ficar a reboque da burguesia.
Esse esquema eleitoral não é de combate, de luta, de mobilização popular. A tática eleitoral desses partidos é ganhar lugar ao sol para indivíduos pequeno burgueses que depois farão o papel de salvadores da pátria.
Não há intuito de organizar o povo, enfrentar instituições e combater os poderosos. É um esquema que visa apenas ganhar eleições e garantir a ambição de alguns carreiristas pequeno-burgueses.
Desse modo, as eleições destroem partidos de esquerda como partidos de luta. O partido de esquerda vai sendo dominado pelos elementos mais carreiristas, que querem se eleger, que querem cargos, e vai abandonando qualquer perspectiva de organizar e mobilizar a população.
Em oposição a isso, é preciso ter claro que as eleições são, como o sabem todos os marxistas, apenas a mudança daqueles que vão administrar os negócios da burguesia. Nenhuma mudança essencial pode vir das eleições e é preciso levar essa consciência para a população, de que somente sua mobilização e a tomada do poder em suas próprias mãos é capaz de mudar de fato a situação. Alimentar ilusões nas eleições é conduzir os trabalhadores a ficarem a reboque da burguesia.