A Bahia não está em festa. Foi anunciado no Jornal Folha Uol que sexta-feira dia 04 em Itapuã, Salvador BA, houve o falecimento de Jaciara de Jesus Santos de 70 anos, conhecida como a Cira do Acarajé. Era conhecida como possuidora da melhor receita de acarajé de rua de Salvador.
Aos 17 anos de idade, com a morte de sua mãe, se pôs a continuar o trabalho que fazia desde os 12 anos com ela para sustentarem a família, que é fazer e vender acarajé.
Foram 50 anos de dedicação que renderam bons frutos e ajudaram a criar os irmãos, chegando a abrir outras três barracas de rua . Ela herdou a melhor receita do tradicional quitute baiano da cidade e acrescentou suas habilidades para melhorar ainda mais a receita.
Assim fez de seu acarajé o mais famoso no país e fora dele, recebendo elogios de personalidades famosas nas redes sociais. Em 2003 recebeu do prefeito, juntamente com outras duas das melhores baianas do acarajé, a chave da cidade como símbolo da abertura oficial do carnaval. Em 2019 pela 16ª vez recebeu o prêmio de melhor acarajé de Salvador.
Era adepta do candomblé, filha de Iansã com Oxum, e com suas habilidades na cozinha baiana fizeram com que se tornasse personalidade e marco turístico de Salvador. Referenciada, como exemplo, pelas demais baianas que se dedicam ao acarajé, conforme relato da presidente da Associação Nacional das Baianas do Acarajé, Rita Maria Ventura dos Santos.
Ainda na sexta-feira recebeu homenagens do Esporte Clube Bahia, do governador Rui Costa (PT), do prefeito ACM Neto (DEM), e da vereadora eleita Maria Marighella (PT), do cantor Nando Reis, do Coletivo de Entidades Negras e tantos outros.
Ela estava internada há cerca de 20 dias com problemas nos rins. Em abril teve coronavírus mas ficou bem, conforme relato de familiares. A Cira do Acarajé deixa cinco filhos ( Jussara, Cristina, Cristiane, Carlos e Renê) e oito netos.
Uma guerreira, que lutou pela vida com tantas dificuldades como as que sofre todo o povo do nordeste. É difícil imaginar que consigam sobreviver, mas felizmente alguns poucos chegam lá, como é o caso da Cira. Além da cor da pele, da origem humilde, o descaso do estado com o atendimento médico e a pandemia, com a crise econômica, e ainda assim fazem disso o melhor motivo para superarem tudo e continuar seu caminho.
Deixemos como lembrança da Cira a bonita postagem do cantor Nando Reis “Não me lembro de ter ido à Salvador sem passar em Itapuã para comer o @acarajedacira. Acabo de saber de seu falecimento. Já não bastasse as agruras desse ano terrível, viveremos os próximos sem sua presença nessa terra, com a vida cada vez menos saborosa”.