Um programa de entrevista extraordinário ocorreu nesta sexta-feira (04/12) na TV 247 no Youtube. O presidente do PCO Rui Costa Pimenta analisou a questão Lula, sua importância no atual cenário político, bem como a situação atual do Partido dos Trabalhadores.
Entrevistado por Leonardo Attuch, como de costume, outros assuntos também foram incluídos na discussão. Os principais momentos você acompanha abaixo.
“O PT ainda é o grande partido de oposição no Brasil [do ponto de vista eleitoral]”
A primeira pergunta foi sobre a visão da imprensa da direita de que o petismo e o bolsonarismo foram os grandes derrotados, bem como os comentários de figuras de esquerda como Alberto Cantalice e Jaques Wagner em que colocam o Lula como ultrapassado na política nacional.
Sobre a visão de que o PT é o grande derrotado, Rui desmente essa ideia explicando que o PT estando fora do governo perdeu grande capacidade de fazer as campanhas eleitorais. Conversando com uma liderança do PT, Rui disse que ouviu um comentário no seguinte teor: “Nós estamos voltando para o ano de 1980 do ponto de vista da estrutura do partido. Precisamos nos reorganizar”.
“O desempenho eleitoral do PT não foi tão ruim, foi um desempenho de um partido que está se reorganizando do ponto de vista geral. Não é uma desbarrancada. O PT esteve no segundo turno em muitas cidades importantes”, afirmou Rui.
“Lula é o grande problema da burguesia no Brasil”
Sobre as declarações de Jaques Wagner contra o Lula, Rui afirmou que Wagner tentou até desfazer o que disse, porém foi objetivo ao afirmar que declarações desse tipo feitas pela esquerda são encomendadas pela burguesia.
Explicando sobre o golpe no Brasil, Rui disse que a burguesia sempre soube que o principal problema do golpe no Brasil seria o Lula – caso o regime adotado não fosse uma ditadura e permanecesse havendo eleições – e continua sendo.
Comparando com outros países do continente, Rui afirma que todo mundo que faz esse tipo de declaração acredita que vai chegar a um acordo com a burguesia como ocorreu na Bolívia tirando o Evo Morales ou na Argentina colocando Cristina Kirchner como vice.
“Mas a burguesia não quer um partido de esquerda, um partido de esquerda tem que servir para fazer o jogo da burguesia, ela vai dar uma esmola, uma migalha. O que o PT teve até hoje não vai ter mais sem o Lula”, arrematou o companheiro.
PCO decide lançar campanha “Lula presidente em 2022”
Rui informou que a direção do PCO decidiu nesta semana lançar a campanha “Lula presidente em 2022”.
Questionado por Attuch dos motivos de o PCO não ter apoiado Lula em eleições anteriores, Rui foi contundente no balanço histórico relembrando o apoio do PCO a Lula ao governo do estado de São Paulo em 1982, um ano antes da criação da CUT em 83, na primeira eleição presidencial em 1989 o PCO apoiou o Lula porém contra o vice do Lula que era do PSDB, a campanha na época era “Lula presidente por um governo dos trabalhadores”. Em 1994 e 1998 o PCO voltou a apoiar Lula com esta mesma posição. Já em 2002, como um partido próprio, o PCO lançou candidato e não votou em Lula no segundo turno por considerar que ele havia estabelecido um pacto com a classe dominante e tal posição se repetiu nos anos posteriores. Na última eleição da Dilma, o PCO não apoiou a candidata, mas denunciou o golpe que estava em marcha contra ela.
“A burguesia se opõe ao Lula porque quer aprofundar o golpe”
O presidente do PCO foi didático ao dizer que as pessoas dentro do PT que falam contrariamente à candidatura do Lula pensam que não ficarão nos braços da burguesia golpista e não enxergam que se trata de uma tentativa de aprofundamento do golpe, sendo que tal aprofundamento do golpe irá se voltar contra eles próprios.
“Sem a figura do Lula o PT não seria mais do que um PSOL”, afirma Pimenta.
Sobre as eleições municipais e o resultado do PT, Rui citou 2012 e explicou o motivo porque o PT conseguiu um resultado insignificante de 600 prefeituras, o melhor resultado desde sempre. Tratou-se de uma investida muito poderosa para tentar quebrar o duro monopólio que os partidos do bloco dominante possui sobre os municípios. Uma das causas do golpe estava relacionado a isso, ou seja, o medo de que o PT pudesse quebrar esse monopólio.
“Com certeza o julgamento do mensalão foi para quebrar essa investida do PT nas prefeituras. Tanto que foi um ataque direto ao Dirceu, principal articulador dessa investida”, menciona Rui.
Sobre as posições direitistas dentro do PT que se opõem à candidatura do Lula, Rui Costa Pimenta afirma que a base do PT precisa se pronunciar para contrapor posições como a do Cantalice, Wagner e a da direita do PT. O presidente do PCO foi enfático ao dizer que a própria base do partido precisa adota sua posição e se pronunciar.
“Burguesia fez festa apoiando o Boulos.”
Uma questão que sempre é feita ao companheiro Rui diz respeito ao incômodo que as críticas contundentes do PCO à candidatura de Boulos em São Paulo causam em meio à audiência dos órgãos de imprensa progressistas e de esquerda na internet.
“Nós não formamos um partido para ser apêndice de outro partido. À princípio o PCO irá votar nos seus próprios candidatos. Não faz sentido algum votar em candidatos de outro partido. Isso é algo irracional. A pessoa acha que você constrói um partido mas você tem que votar em outro partido na eleição porque tal candidato pode ganhar. Isso é algo bem brasileiro, faz parte do atraso político do Brasil. Se você for na Inglaterra, por exemplo, e falar que um filiado do Partido Trabalhista tem que votar no candidato do Partido Conservador, você será visto como um doido. Isso daí não é comum”, inicia Rui.
Rui continua a explicação dizendo que não é só o Boulos. O PCO não votou na Manuela, no candidato do Dino, na major de Salvador nem em Marília Arraes. A crítica ao Boulos se deve ao fato de que ele é uma peça no jogo da burguesia para fazer com que o Lula fique de escanteio e seja consolidado o golpe de estado, trata-se da “operação Biden”. O papel do PCO é esclarecer. Pessoas dizem que é horrível o PCO criticar o Boulos, mas a crítica na política é um elemento essencial, é uma ferramenta de esclarecimento para a população.
“O Haddad e demais candidatos do PT não são muito diferentes dos candidatos da burguesia.”
Leonardo Attuch apresentou seu ponto de vista de uma próxima candidatura de Haddad, afirmando pensar que este seria o melhor nome do ponto de vista eleitoral, visto que ele já foi candidato anteriormente,
Rui explicou que Haddad não tem a capacidade de se contrapor à radicalização do Bolsonaro. Ele não é visto pela população como um candidato muito diferente daqueles candidatos da burguesia, ao contrário da visão que o povo tem do Lula, um homem que já liderou greves. Rui relembrou a frase do Lula que diz que o Haddad é o candidato mais tucano que o PT já lançou até então.
“Por quê Lula não pode concorrer? É preciso expor essa chaga do STF.”
Uma pergunta de um espectador do debate sobre a possibilidade da campanha por Lula presidente dar errado e não atingir seu objetivo, deu lugar a uma explicação do funcionamento da luta política pelo companheiro Rui Costa Pimenta. “Há muitos resultados numa luta política. Por exemplo, na eleição de 2018 o Lula não deveria ter tirado a candidatura, deveria ter ficado um vazio, o que seria uma denúncia espetacular contra a eleição do Bolsonaro, isso teria um impacto muito grande na psicologia da população”, arrematou Rui.
“O Lula não participou da última eleição porque estava com os direitos políticos cassados, mas porque o STF adotou uma posição totalmente arbitrária. Na última eleição municipal foram eleitos mais de 100 prefeitos condenados, como eles foram eleitos? Participando com recurso. O Lula também tinha esse mesmo direito, o problema é que essas pessoas do STF, que é uma ditadura, decidiram que ele não poderia fazer isso, cassaram o tempo dele na TV, tudo de forma arbitrária e ele acabou cedendo, na minha opinião ele não deveria ceder”, criticou o presidente do PCO.
“Sem conflito não vamos conseguir resultado nenhum”, concluiu.
Estes temas e outros foram abordados na entrevista desta sexta na TV 247.