Da direita bolsonarista até a esquerda pequeno-burguesa de aparência mais radical, todos os diferentes balanços das eleições municipais que se encerraram têm praticamente a mesma conclusão: “Lula está superado, o PT está acabado, é preciso um substituto e um novo nome na esquerda”. Na realidade, todos seguem o balanço da direita tradicional, dos setores majoritários da direita golpista.
Mais do que um balanço, trata-se do desejo da burguesia e é a preparação para as eleições de 2022.
O PSOL e Guilherme Boulos, ao menos para aquele setor da esquerda pequeno-burguesa de aparência mais radical, foram escolhidos pela direita, apresentados pela imprensa golpista como os grandes substitutos do PT e de Lula. Tal propaganda em torno de Guilherme Boulos foi feita pela imprensa golpista mesmo antes do início da campanha eleitoral.
O objetivo de tal manobra nós já explicamos exaustivamente, neste Diário e nos diversos órgãos da imprensa do PCO. É preciso denunciar o caráter golpista da manobra, apresentando um partido de esquerda sem base popular e sem programa definido, como o PSOL, para isolar o PT e Lula, único representante da esquerda que possui real apoio popular. Para ser mais preciso, o nome mais popular da política nacional. E é justamente por conta disso que foi dado o golpe, que prenderam Lula e agora querem se ver livres dele.
Mas um aspecto muito interessante sobre o próprio caráter oportunista da esquerda pequeno-burguesa vem à tona nessa discussão sobre Lula, o PT e PSOL.
A esquerda pequeno-burguesa, em particular Boulos e o PSOL, não quer bater frente em nenhum momento com Lula. Pelo contrário, se equilibra entre ser a escolhida pelos golpista como substituta oficial do PT no regime político e ao mesmo tempo parecer aliados fiéis de Lula.
Para isso, falsificam livremente a história recente do País. O PSOL se tornou o partido que mais lutou contra o golpe. Boulos, que até 2018 não era do PSOL- e entrou no Partido só depois de ter acertada sua candidatura presidencial -, não apenas teria sido um grande lutador contra os golpistas como foi o maior defensor de Lula. Para quem participou diretamente de todo esse processo de luta, que vem desde pelo menos 2013, sabe como essa história é uma falsificação grotesca.
Elementos do PSOL chegaram a defender a queda de Dilma, como por exemplo Luciana Genro, candidata presidencial do partido em 2014. Alguns se recusaram até o último minuto de reconhecer e efetivamente se mobilizar contra o golpe. O papel do PSOL no golpe não foi nada mais do que dar alguns votos de seus poucos deputados contra o impeachment e essa demonstração raquítica de uma política doentiamente parlamentar garantiu ao partido alguma propaganda posterior de que havia luta contra o golpe.
Embora ainda não estivesse no PSOL, Boulos teve uma posição parecida. No momento em que as organizações de massas chamavam o povo para as ruas contra o golpe, Boulos se infiltrava nas manifestações para dizer que a palavra de ordem central das manifestações deveria ser a luta contra os ajustes de Dilma, gerando enorme confusão. Confusão gerada também pela iniciativa de Boulos, junto com o PSOL e partidos menores como o PCB, de criar a Frente Povo Sem Medo para impedir o desenvolvimento da Frente Brasil Popular, que naquele momento se constituía como uma tentativa de frente das organizações de massa para lutar contra os golpistas.
Isso sem contar das manifestações do “Não vai ter Copa” de 2014 e dos artigos de Guilherme Boulos para a golpista Folha de S. Paulo em pleno processo golpista, usados para atacar Dilma “pela esquerda”.
Com a perseguição a Lula, o PSOL manteve a posição ambígua, para dizer o mínimo. Boulos esteve no palanque abraçando Lula momentos antes deste ser preso. Durante a prisão do ex-presidente, a maior parte das ações do PSOL eram discursos piegas em atos públicos. Nas eleições de 2018, o PSOL não defendeu incondicionalmente o direito de Lula ser candidato menos ainda chamou uma mobilização contra a prisão de Lula. Participaram do jogo eleitoral golpista como se tudo fosse normal e Boulos, nos poucos debates que tiveram, se limitava a dar “boa noite” para Lula. “Boa noite presidente Lula, você aí preso, eu aqui solto legitimando as eleições fraudulentas”.
Por fim, não foram poucas as vezes que elementos do PSOL procuravam fazer pouco caso de Lula. O exemplo mais emblemático foi o “Lula livre não unifica” de Marcelo Freixo.
Poderíamos fazer uma lista muito mais extensa, mas pouparemos o leitor. É o suficiente saber que o PSOL que se apresenta agora como os maiores aliados do PT e de Lula é um PSOL que não existe.
Mas para que tanto esforço em falsificar a realidade se Lula está acabado eleitoralmente? Se Lula deve ser substituído, por que é tão importante aparecer como aliado de Lula.
A resposta só pode ser encontrada justamente na negativa dos fatos apresentados no balanço das eleições. Lula não apenas não está acabado como é ele ainda o único nome popular do País. A operação Boulos e PSOL só podem dar algum resultado se suas imagens continuarem vinculadas a Lula.
Mas se é assim, por que então a esquerda deveria procurar substituir Lula? Simplesmente porque assim o quer a direita, que faz a propaganda disso. Porque é a direita que quer se livrar de Lula e usa o PSOL e Boulos para essa manobra. E Boulos e o PSOL estão aí no mercado eleitoral para serem vendidos como os sucessores de Lula e do PT.
Enquanto fazem discurso de que são os maiores aliados de Lula, estão se articulando na frente ampla com a direita, com Ciro Gomes, com o PSB. E a manobra da frente ampla visa isolar Lula e forçar sua base popular – repetimos para ficar claro, a base popular é de Lula e do PT – a apoiar um candidato da frente ampla.
Lula é muito útil para fazer demagogia eleitoral e roubar os seus votos. Mobilizar que é bom, nada. Inclusive, se há alguma dúvida, pergunta a alguém da esquerda pequeno-burguesa se ela defende a luta pelo direito de Lula ser candidato. A resposta será: “Sim, mas não, talvez, defendo, mas devemos pensar numa renovação para 2022”, mobilizar e lutar que é bom, nada.