Neste dia 28 de novembro, comemora-se o bicentenário do nascimento do revolucionário alemão Friedrich Engels. Nascido em Bramem, chamada “Manchester alemã” na região da Renânia alemã, filho de um industrial que se transformou em um dos maiores teóricos e militantes do movimento operário na história.
Friedrich Engels é um dos fundadores do marxismo, como salientou Pierre Fougyrollas, não é possível compreender a obra de Marx sem essa parceria.
“As atividades políticas e intelectuais de Marx e Engels estiveram tão estritamente ligadas, durante perto de quarenta anos, que é impossível falar da vida de Marx sem evocar a vida de Engels e sem lhe atribuir o importante lugar que ela merece.” (FOUGEYROLLAS, P. Marx, p.19)
Duas revoluções da passagem do século XVIII para o século XIX, a Revolução Industrial Inglesa e a grande Revolução Francesa de 1789 terão forte impacto no contexto que marca a vida de Marx e Engels. Além das modificações nas formas ideológicas como o desenvolvimento da crise religiosa, do pensamento filosófico e científico da época.
A Renânia é a região alemã (não havia no início do século XIX, um estado alemão unificado) marcada por uma forte influência da Revolução francesa, que se expressou na propagação das ideias iluministas francesas nos autores e na sociedade.
Uma questão interessante é notar as diferenças das influências religiosas nas famílias de Marx e de Engels. Enquanto, a família de Marx de origem judaica, teve uma significativa influência das ideias revolucionárias francesas, uma vez que a emancipação parcial dos judeus na Renânia estava relacionada diretamente com a expansão napoleônica. Por sua vez, a família de Engels tinha uma orientação religiosa bastante conservadora, um protestantismo petista. Assim, enquanto o pai de Marx, Heinrich Marx educou o filho de maneira aberta, imune de preconceitos religiosos, com leitura de autores iluministas. O pai de Engels, era extremamente pietista seguindo a tradição dos ricos comerciantes de Bramem.
O pesquisar russo, David Riazanov no seu curso sobre Marx- Engels e a história do movimento operário destacou o contexto histórico no desenvolvimento dos autores alemãs criadores do materialismo dialético e histórico
“ Marx e Engels foram homens de uma época determinada. Chegaram a vida consciente, isto é, como saíram do período infantil, durante o qual as principais impressões vieram das famílias; como foram submetidos à influência de uma época histórica, cujo caráter foi determinado principalmente pela revolução de julho ( 1830) na Alemanha, pelo desenvolvimento do movimento operário e pelo avanço revolucionário” ( RIAZANOV, P37)
A Parceria de Marx e Engels
O estabelecimento da cooperação entre Marx e Engels representou, sem dúvida, uma das mais eminentes e produtivas associação intelectual e política na História. Nesse trabalho comum, Engels contribui de maneira decisiva para o desenvolvimento posterior do marxismo em direção ao estudo da economia política e com a profunda ligação com as lutas da classe operária em todo mundo. Destaca-se a formidável obra de Engels A situação da classe trabalhadora na Inglaterra.
Devido as perseguições políticas constantes e a aguda falta de recursos financeiros até mesmo para a manutenção diária, Marx somente pode realizar sua formidável obra a partir da ajuda de Engels. Além disso, havia uma divisão de trabalho intelectual e prático entre os dois.
“ culturalmente, Marx e Engels eram, por um lado, semelhantes e, por outro, complementares. Durante o tempo de sua colaboração estabeleceram entre si uma espécie de divisão de trabalho intelectual. Originalmente, Marx tinha uma formação mais filosófica, e Engels, uma formação mais econômica. Porém, o grande projeto de Marx de escrever uma Economia levou-o a prolongadas pesquisas nesse campo, enquanto Engels se ocupava de filosofia, como demostraram a publicação do Anti-Duhring, em 1878, e a publicação póstuma de sua Dialética da Natureza. Onde se juntavam e atuavam inteiramente em comum era no campo da militância política” (FOUGEYROLLAS, P. Marx, p.22)
A atuação política conjunta tem um caráter internacionalista, Marx e Engels organizam em 1846, os Comitês de Correspondência Comunista, um trabalho de ligação entre trabalhadores de diferentes países europeus. Posteriormente, ingressam em 1847, na Liga dos Comunistas (antiga Liga dos Justos). No Congresso da Liga Comunista em novembro de 1847, Marx e Engels são encarregados de redigir o programa da organização, que viria a ser o mais importante documento revolucionário da história, e do mais lidos até hoje, o Manifesto Comunista, publicado em 1848. A redação final do Manifesto foi feita por Marx, a partir do esboço elaborado por Engels, em formato de perguntas e respostas, Princípios do comunismo.
No texto Princípios do Comunismo, a primeira questão formulada é sobre o que é o comunismo?. A resposta apresentada é esclarecedora da importância da luta socialista na época moderna, “O comunismo é a doutrina das condições de libertação do proletariado.” Em seguida são apresentadas definições sobre o que é proletariado, o significado da exploração capitalista, da diferença entre proletariado moderno e os escravos, servos e artesões. É discutido o caráter internacional do desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo.
Fundamentalmente são apresentadas as indicações de que a luta pelo socialismo não é uma luta em abstrato, existe uma relação necessária entre economia e política, e que ponto essencial é a luta de classes, e que o comunismo não é a busca do “ bem comum” genericamente, mas está vinculada “condições de libertação do proletariado.” O Manifesto Comunista que apresenta essas e outras formulações é a base do movimento independente dos trabalhadores, que colocou em relevo a importância da luta política contra a burguesia e outras classes reacionárias.
Em 1848, ano de publicação do Manifesto Comunista, a Europa, a começar pela França foi sacudida por um vendaval revolucionário. Revoluções que foram anunciadas por Marx e Engels, apesar que do ponto de vista imediato, o Manifesto não teve impacto algum. De qualquer forma, Marx e Engels desenvolveram uma cuidadosa análise da luta de classes a partir dos acontecimentos revolucionários de 1848, do papel recuado que a burguesia irá desempenhar nos acontecimentos, especialmente na Alemanha, da capitulação da esquerda pequeno burguesa e da entrada em cena da classe operária ( apesar de derrotada).
Durante mais de uma década o pós 1848 é marcado por um período de reação, somente a partir de meados dos anos 1860, o movimento operário se reorganiza, na Alemanha é constituída as bases para um movimento sindical expressivo, em diversos países europeus, existe a retomada das lutas, desaguando em uma articulação transnacional, com a constituição da Associação Internacional dos Trabalhadores, a I Internacional, fundada em setembro de 1864, Marx e Engels participaram de maneira decisiva nesta organização. A guerra fraco-alemã de 1871 e a Comuna de Paris de 1871 foram acontecimentos que evidenciaram o caráter internacionalista da Internacional. O próprio Engels, que tinha entre suas especialidades a questão militar, elaborou um plano de defesa de Paris, e tem escritos interessantes sobre guerra , política e instituições militares.
Após a morte de Marx em 1883, Engels será o principal responsável pela publicação dos volumes II e III do O Capital, e pela divulgação do marxismo, bem como pela conquista de disposições concretas para as posições revolucionárias, colaborando para transformar o marxismo em uma força fundamental na luta dos trabalhadores, expressa na construção de partidos socialistas de massas, bem como a constituição da II Internacional, em julho de 1889.