Em 20 de novembro de 1910, na cidade russa de Astapovo (cujo nome deriva do lago Ostapovo, também chamado de Ostap ou Astap), morria o gigante da literatura Liev Nikoláievich Tolstói, em português conhecido como Leon ou Liev Tolstoi.
Astapovo era uma pequena cidade rural russa, cujo edifício mais proeminente era a estação de trens. No poema Poema da Gare de Astapovo, Mário Quintana reencena a morte do autor e cita a estação de trens:
“E então a Morte,
Ao vê-lo tão sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!”
Tolstoi chegou a Astapovo numa tentativa de levar uma vida simples e anônima, e lá acabou contraindo pneumonia e morrendo durante o outono russo.
Um dos maiores nomes da literatura mundial e autor de obras universais como Ana Karenina e Guerra e Paz, Tolstoi forma com Fiódor Dostoiévski a dupla de autores realistas russos mais conhecida no mundo.
Sobre Tolstoi, Lênin escreveu em 1908 (Jornal Proletári nº 35 de 11 de Setembro de 1908) um texto intitulado “Lev Tolstoi como Espelho da Revolução Russa“, onde diz:
“As contradições nas obras, concepções, doutrinas, na escola de Tolstoi, são realmente gritantes. Por um lado, um artista genial, que deu não só quadros incomparáveis da vida russa como obras de primeira classe da literatura mundial. Por outro lado, um latifundiário obcecado por Cristo.”
Ainda que o autor, em suas contradições, não pudesse compreender o movimento operário e tivesse optado no fim da vida por levar uma vida pacifista e repudiar a revolução, sua obra era considerada genial pelo revolucionário. Além do mais, Lênin pondera em seu texto que o autor era um retrato da sua época e importante ser lido e compreendido como tal:
“…as contradições nas concepções e doutrinas de Tolstoi não são um acaso mas uma expressão das condições contraditórias em que se encontrava colocada a vida russa do último terço do século XIX.”
Trotsky também era grande admirador da obra de Tolstoi, apesar de compreender que o homem deveria ser lido a partir de suas condições de origem. no texto “Tolstoi, Poeta e Rebelde”, Trotsky diz:
“Em todo lugar e em tudo veio tumulto e tumulto, veio a decomposição da velha nobreza, a desintegração do campesinato, o caos universal, o lixo e lixo da demolição, o zumbido e barulho da vida na cidade, a taverna e cigarro na aldeia, limerick de fábrica no lugar da canção popular – e tudo isso repelia Tolstoi, tanto como aristocrata quanto como artista. Psicologicamente, ele deu as costas a esse processo titânico e recusou para sempre o reconhecimento artístico. Ele não sentiu nenhum desejo interior de defender a escravidão feudal, mas permaneceu de todo o coração ao lado desses laços nos quais ele viu a simplicidade sábia e que ele foi capaz de desdobrar em formas artisticamente perfeitas.”
Tolstoi foi um retrato de sua época e artista sem comparação, sua obra é eterna e ao autor não deve ser esquecido.