Na coluna da semana passada mostramos como a propaganda da imprensa golpista está voltada a convencer a população de que o clube-empresa é a maior novidade em eficiência no quesito bons resultados no futebol.
Assim, a imprensa tem dado destaque aos bons exemplos e deixado de lado os sucessivos fracassos da experiência com o que podemos chamar de privatização do futebol.
Grosso modo, o que acontece é que os capitalistas assumem o clube, investem dinheiro para levá-lo até um determinado patamar que garanta transformar esse investimento em lucro. Depois disso, procuram extrair esses lucros. Ou seja, o investimento não para o clube, nada mais é do que uma jogada especulativa parasitária usando os clubes como ponte para extrair esse capital.
Por isso, tem sido uma regra que os clubes que se tronaram empresas tenham um queda vertiginosa logo após uma ascensão repentina.
O jornalista Juca Kfouri que procura se apresentar como de esquerda, embora tenha lugar cativo na imprensa burguesa como a Folha de S. Paulo/UOL, é incrivelmente um defensor do clube-empresa.
Em artigo publicado em seu blogue no UOL, chamado “Lei Áurea, lei Pelé e a lei do clube-empresa” e assinado por Rodrigo R. Monteiro de Castro, é feita a defesa do clube-empresa como a libertação do futebol.
Segundo o artigo, a lei do clube-empresa, que está em tramitação no Congresso Nacional, seria comparável à Lei Áurea que aboliu a escravidão e à Lei Pelé que extinguiu o “passe”, permitindo que o jogador tenha livre circulação entre os clubes.
O autor do artigo critica parcialmente as leis, colocando que elas não deram a estrutura necessária para a libertação real dos ex-escravos e dos jogadores.
A Lei do clube-empresa seria a terceira lei libertadora. “Essa lei (…) poderá libertar o futebol de um aprisionamento indefensável e injustificável sob qualquer prisma”, afirma o artigo. Apenas os cartolas dos clubes não ficarão satisfeitos com tal lei.
A Lei Áurea, com todas as críticas que podem ser feitas, representou do ponto de vista formal e jurídico a necessidade de libertação dos negros. A comparação não cabe.
A Lei Pelé, embora pudesse ter boas intenções, não representou de fato a libertação do jogador. Na realidade essa era apenas a justificativa moral para abrir a possibilidade dos capitalistas colocarem as mãos com maior facilidade sobre os nossos jogadores. “Livres” dos clubes, escravos dos empresários.
O clube-empresa é o ainda maior aprofundamento dessa política dos capitalistas. Passar por cima dos interesses de alguns cartolas que comandam o futebol não pode ser desculpa para abrir as portas para os capitalistas assumam de uma vez por todas o nosso futebol.
Isso não é libertação. É escravidão, é a privatização do nosso futebol.