Embora muito pouco debatida pela imprensa burguesa e pela esquerda brasileira, a situação política no Peru está explodindo. Isso porque o país está em uma crise política bastante profunda, que já levou à queda de três chefes de Estado, o suicídio de um ex-presidente, o fechamento do Congresso e manifestações de rua. O mais recente grande acontecimento foi a derrubada do então presidente Martín Vizcarra pelo parlamento peruano, que se deu no dia 9 de novembro.
Os conflitos entre Vizcarra e o Congresso já vinham se dando havia bastante tempo, a ponto de Vizcarra determinar o fechamento da Casa. Vizcarra foi derrubado por um golpe comandado pela extrema-direita do regime. Isto é, pelos fujimoristas.
Com a queda de Vizcarra, subiu ao poder o então líder do Congresso, Manuel Merino, que é uma liderança fujimorista. No entanto, os peruanos reagiram rapidamente ao golpe de extrema-direita e, nas ruas, derrubaram Merino, que acabou renunciando. A crise, então, se tornou ainda mais intensa.
Mesmo a mobilização tendo sucesso em derrubar o presidente fujimorista, a burguesia procura controlar a situação, sem ter de dar um passo atrás. Até o momento, não há uma decisão do regime político de reverter o processo que derrubou Vizcarra — processo esse ilegítimo e que está sendo denunciado pelos manifestantes como uma aberração antidemocrática. Afinal, se houvesse tal reversão, o regime ficaria ainda mais desmoralizado.
Na segunda-feira (16), os peruanos voltaram às ruas para lutar contra o golpe em curso contra seu presidente, dando lugar a grandes manifestações. Ao mesmo tempo, o Congresso peruano tomava a decisão de quem seria o novo presidente do país. Contrariando às manifestações, o Congresso escolheu Francisco Rafael Sagasti, do Partido Morado, como o novo presidente. Os manifestantes exigiram que apenas os congressistas que votaram contra a derrubada de Vizcarra escolhessem o presidente, mas isso foi totalmente ignorado pelos parlamentares. Sagasti governará o país até julho de 2021. Dois meses antes, em maio, haverá eleições presidenciais.
A escolha do novo presidente apenas comprova que a crise no Peru está muito longe de ser resolvida. E, por isso, é de se esperar que a mobilização apenas se intensifique. As manifestações contra o regime, que é extremamente repressivo, vêm se desenvolvendo há anos e estão mostrando um potencial de pôr abaixo a ditadura da direita. No entanto, é preciso ter em mente, ao mesmo tempo, que a extrema-direita está avançando a passos largos no regime e que contará com o apoio da burguesia para conter a mobilização popular.
Nesse sentido, é preciso intensificar a mobilização contra a direita, que, assim como nos demais países latino-americanos, procura trucidar o nacionalismo burguês para impor a política neoliberal. A mobilização deve continuar, portanto, para derrubar o regime golpista de conjunto.