Até mesmo em flancos da esquerda se acusa Bolsonaro de incompetência por designar ocupantes de cargos sem nenhuma ligação técnica ou experiência com a função do cargo. Mas isso não condiz com outros movimentos perspicazes que já vimos o bolsonarismo executar. A quem interessa e quem acredita que essa extrema-direita seja medíocre e burra somente? É mais cauteloso supor que não estão percebendo as verdadeiras intenções do inimigo.
Portaria publicada no Diário Oficial da União nesta quarta (28), assinada pelo ministro do Turismo, nomeou o coronel da reserva do Exército Paulo Cezar Dias de Alencar para ser substituto eventual do cargo de secretário de Desenvolvimento Cultural, pasta que integra a Secretaria Especial da Cultura do governo fascista. Peraí… “da reserva”? Então o cara é aposentado, como muitos outros integrantes do governo oriundos das forças armadas.
Bom, ele deve ter alguma qualificação notória na área da cultura ou experiência grande para ser nomeado nessa pasta, ainda mais tirando o homem do conforto da aposentadoria – você vai perguntar, leitor. Mas não. Consultando o currículo do ex-coronel em duas bases de dados, não encontramos NENHUMA atuação no setor cultural/ artístico. A matéria do jornal O Tempo, que usamos como fonte, parece que tenta confundir o leitor trazendo que o chefe deste Paulo Cezar se diz artista plástico, como se isso autorizasse o aposentado a trabalhar na Cultura. A matéria ainda mistura outros nomes, algumas declarações sem sentido com a palavra “cultura”, provavelmente para esconder o fato de que Paulo Cezar é engenheiro, só trabalhou com engenharia e não tem nada a ver com Cultura.
Outra informação que a matéria não traz é quando o engenheiro ex-coronel se aposentou. Se esses caras se aposentam, como continuam no trabalho? No Exército existe um termo para quem se aposenta e continua trabalhando: “vampiro”. O objetivo desta prática é acumular o dinheiro da aposentadoria mais o salário do atual cargo.
Mas o mais importante aqui é perceber que o que o governo Bolsonaro (ou seriam os militares entreguistas por trás de Bolsonaro?) está fazendo não é somente atender seu fisiologismo dando carguinho nada a ver para os “amigos”. A ideia é encher o governo de militares, preparando o terreno, fortalecendo cada vez mais o que já é um estado de exceção, criando as condições para se abandonar as exigências do estado apenas formalmente democrático: é pavimentar a estrada para a ditadura.
Eles, Bolsonaro e os militares, no momento, são uma e a mesma coisa, mas se a fachada, que é Bolsonaro, não aguentar, eles trocam e continuam a escalada da ditadura fascista. Só a troca radical do regime, em favor dos trabalhadores, pode garantir melhores condições de vida para a população.
Perfil do engenheiro ex-coronel no linkedin:
https://br.linkedin.com/in/paulo-cezar-dias-de-alencar-31418135
(consulta em 29/10)
Currículo no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq):
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4483741A8
(consulta em 29/10)