Os mais de 85.000 mortos pela covid-19 no Brasil, números que seguem em rápido aumento, é uma tragédia anunciada. A burguesia, que arranca o couro dos trabalhadores até os ossos, já conduzia há décadas uma política de destruição do serviço público e retirada de direitos dos trabalhadores, colocando a população na condição mais propícia para a disseminação do coronavírus. Por se dar conta de que a pandemia poderia acender o pavio do barril de pólvora de uma explosão social sobre o qual está sentada, esta mesma burguesia, representada por governadores e prefeitos, vem nos últimos meses recebendo a alcunha de defensora da ciência por apoiar o isolamento social, contrariando as posições do presidente fascista Bolsonaro de defesa da reabertura do comércio. Porém, a máscara de bom moço deste setor da direita não demorou pra cair, já que os supostos amantes da ciência agora já reabriram praticamente todo o comércio, apesar do covid-19 estar totalmente fora de controle no Brasil.
Tal polêmica envolvendo a reabertura do comércio reflete também no futebol. Num período recente, a crise em torno da volta precoce do futebol girou em torno do futebol carioca, no qual Flamengo e Vasco encabeçaram um lobby para que o campeonato estadual fosse retomado. Apesar dos olhos da imprensa futebolística naquele momento estarem com os olhos voltados para o Rio de Janeiro, um outro estado merece também a devida atenção pelo mesmo motivo e numa situação ainda mais grave que é Santa Catarina.
No último dia 8 de julho, o campeonato estadual havia sido retomado, numa tentativa do governador de extrema-direita Carlos Moisés (PSL) de mostrar que tudo estava sob controle em seu estado e, assim, justificar a reabertura do comércio, atendendo ao interesse dos capitalistas. Todavia, a tentativa do governador demonstrou-se desastrosa e custou a saúde e a vida de milhares de pessoas . Os números de casos da doença explodiram e não tardou para que problemas ligados ao coronavírus voltassem a afetar o futebol daquele estado. Dois dias depois da partida entre Chapecoense e Avaí, veio a notícia de que jogadores e membros da comissão técnica do Verdão do Oeste testaram positivo para o coronavírus, demonstrando falha no protocolo de segurança sanitária antes do jogo. Na sequência, o governador, junto à Federação Catarinense de Futebol (FCF), decretou a suspensão do campeonato catarinense por 14 dias. E no último dia 24, o governo estadual, ao constatar que o aumento gigantesco de casos poderia provocar uma crise política e social, decidiu ampliar as medidas restritivas, o que inclui a proibição de realização de jogos do campeonato catarinense e outros eventos esportivos até o dia 7 de agosto. Até o momento da redação desta matéria, Santa Catarina possui mais de 65 mil casos confirmados de covid-19, com 844 mortes, segundo dados oficiais, números que são maiores por conta das subnotificações.
Este adiamento colocou o governo do estado em rota de colisão com dirigentes de futebol no estado. O presidente da FCF, Rubens Angelotti, se mostrou incomodado com a decisão de Carlos Moisés, admitiu que será difícil encerrar o campeonato estadual por conta da falta de datas e defendeu a volta do futebol no estado citando a volta do futebol no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Paraná. Dia 7 de agosto, justamente no mesmo dia que expira o decreto estadual, começa o campeonato brasileiro da série B, no qual Santa Catarina será representado pelos clubes Avaí, Figueirense e Chapecoense. Já no no dia seguinte, 8, começa a terceira divisão do campeonato nacional, que contará com dois times catarinenses, Brusque e Criciúma.