A crise econômica decorrente da ditadura militar no Brasil (1964 – 1985) que trouxe um grande endividamento estatal, estagnação industrial, desemprego massivo e tendências à hiperinflação, criou a necessidade por parte da burguesia de uma disciplina econômica para que assim se pudesse ter um controle maior sobre a classe operária e a Economia.
Desde o Plano Real (1994) a economia política da burguesia para a classe operária é sustentada por quatro pilares: o congelamento salarial, a intensificação da rotatividade do emprego, a quebra de direitos trabalhistas conquistados através das “flexibilizações trabalhistas”, além da lei antigreve. Isso fez com que nos últimos 26 anos o Brasil conseguisse de certa forma manter uma relativa estabilidade da moeda, do orçamento público federal, dos estados e municípios, do endividamento estatal, da carga impositiva de quase 40% e também do superávit primário.
No governo de Jair Bolsonaro, no entanto, estamos nos deparando com uma tendência ainda mais crítica da economia política para com a classe operária, e isso ocorre pela crise aguda do capitalismo, onde vemos ainda mais fortes o desemprego em massa, fechamento de fábricas, falências, e um dado muito importante que influencia diretamente a vida dos trabalhadores, que é a inflação acelerada.
Se observarmos como os quatro pilares da economia política da burguesia para a classe operária estão sendo conduzidos pelo governo Bolsonaro podemos perceber o verdadeiro descontrole e como a renda dos trabalhadores está cada vez mais baixa e como isso interfere diretamente na convulsão social que se aproxima. Com a crise capitalista em seu estado cada vez mais crítico, o congelamento salarial, que antes se limitava apenas ao crescimento da baixíssima inflação está dando lugar a nenhum aumento real do salário mínimo, afinal isso se contrapõe ao aumento progressivo da inflação, ou seja, a política de quase nenhum aumento salarial já não pode mais ser aplicada e justificada pela taxa de inflação, pois o seu aumento significaria a necessidade de um aumento também do salário mínimo, prejudicando assim a política de benefício da burguesia às custas dos trabalhadores, afinal o aumento de salário significa também o aumento de encargos e do valor da folha salarial, fora o aumento real dos salários.
A rotatividade de emprego dá lugar a grandes massas de trabalhadores desempregados, onde na primeira vez na história, o Brasil se encontra com mais trabalhadores desocupados do que aqueles com carteira assinada. O endividamento estatal está atingindo níveis cada vez maiores, e somente até julho de 2020 já representava mais de 85% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Além disso, as condições de trabalho da classe operária se deterioram cada vez mais, principalmente com as medidas tomadas pelo governo durante a pandemia, ou melhor, sob o pretexto da pandemia. Se a reforma trabalhista aprovada no governo de Michel Temer já foi um duro golpe contra os direitos trabalhistas conquistados, as políticas de Bolsonaro praticamente aniquilaram esses direitos, onde cortes salariais superiores a 50% foram liberados, cargas horárias reduzidas (sem aumento de contingente), contratos podendo ser suspensos e férias antecipadas sem ao menos um período prévio para que o trabalhador pudesse ser comunicado.
Todos os desastres da política econômica do governo Bolsonaro em meio à crise e em meio à pandemia resultam em condições de vida dos trabalhadores cada vez piores e o aumento da inflação, uma das maiores nos últimos 26 anos, e isso devido ao descontrole de todas as outras políticas que de certa forma controlam o regime burguês. Isso reflete diretamente na renda dos trabalhadores, onde a mesma é diminuída e o poder de compra da classe operária é cada vez menor. A alta da inflação e a estagnação dos salários fazem com que a renda dos brasileiros seja cada vez menor, onde produtos primários como os da cesta básica atinjam preços super altos, a grande massa de desempregados cria também uma forma de abaixar ou manter salários de fome, afinal a reserva de força de trabalho em grande quantidade gera uma demanda muito maior do que a procura, o que justificaria, na lógica capitalista, salários cada vez mais baixos.
A política econômica da burguesia é uma forma controlada de impor a pobreza da classe operária, a fim de garantir seus lucros e ao mesmo tempo transparecer uma imagem de controle econômico, mas isso está cada vez mais insustentável no governo Bolsonaro, demonstrando assim como é latente e aguda a crise capitalista, principalmente se no atual momento ela for dirigida com tamanha austeridade contra os trabalhadores.
A crise da renda dos trabalhadores e o verdadeiro descontrole do regime burguês diante da crise capitalista ao mesmo tempo em que prejudica cada vez mais a vida dos trabalhadores também demonstram a tendência à mobilização e a necessidade da luta da classe operária por um salário e renda dignos.
Com o capitalismo em pleno declínio, os problemas imediatos da classe operária passam a ser guias do movimento operário e também são os mesmos que criam na classe trabalhadora a consciência da necessidade de lutar contra o atual regime e pelo governo operário. Diante deste cenário, é imprescindível a mobilização dos trabalhadores, para que as crises sejam superadas e não sejam pagas pelos trabalhadores, e para que o governo operário seja conquistado.
Os trabalhadores devem se mobilizar para derrotar aquilo que mais prejudica as suas vidas, no caso a burguesia e seus governos e de imediato o governo Bolsonaro. Por isso é indispensável a luta pelo Fora Bolsonaro e todos os golpistas.