Os profissionais de cultura estão entre os setores mais afetados pela pandemia do coronavírus. Como suas atividades necessitam da interação entre artista e público, prática incompatível ao chamado “distanciamento social”, a cultura foi uma das primeiras áreas a paralisarem suas atividades e, certamente, serão uma das últimas a retornar.
Pesquisa conduzida pelo Fórum Nacional de Secretários em parceria com Dirigentes Estaduais de Cultura constatou que quase metade dos trabalhadores do setor ficaram sem rendimentos nos últimos quatro meses. Os indivíduos que participaram do estudo também estão pessimistas em relação aos rendimentos dos próximos meses: 29,56% acreditam em redução de 100% nos meses de agosto e setembro e 25,54% já estão se programando para ficar sem renda até janeiro do próximo ano.
Diante dessa realidade, na última segunda-feira (29/06), o governo federal, em mais de um de seus paliativos que se constituem em verdadeiras esmolas para a população (comemorados pela esquerda parlamentar como “grandes vitórias”), “aprovou um projeto de lei que destina R$ 3 bilhões para ações emergenciais que devem ser adotadas no setor cultural durante o estado de calamidade decretado por conta da pandemia de coronavírus”, informou o site UOL.
Diga-se de passagem, valor bastante irrisório, por exemplo, frente aos 170 bilhões que Bolsonaro e os golpistas arrecadam com o setor cultural. Sem falar nos trilhões de reais destinados aos grandes capitalistas.
Conforme lembram os próprios autores do estudo mencionado, os impactos na área não se devem apenas à pandemia do coronavírus. A extinção do Ministério da Cultura, que virou uma secretaria especial no governo ilegítimo de Jair Bolsonaro, também é apontado como um dos problemas no setor.
No entanto, essa questão é mais ampla. A cultura é um alvo privilegiado do bolsonarismo. Governos fascistas têm no setor cultural um de seus principais inimigos, seja por supostamente difundirem o que delirantemente classificam como “marxismo cultural”; seja pelo potencial que determinados eventos têm em reunir uma grande massa, podendo adquirir uma vida independente (como foram os casos dos festejos carnavalescos e do Rock in Rio, onde ecoaram gritos pelo “Fora Bolsonaro).
Não por acaso, no ano passado, Bolsonaro e seus seguidores promoveram uma grande cruzada contra a área cultural. Manifestações que se contrapunham ao direcionamento ideológico governamental foram retaliadas. A Agência Nacional do Cinema (Ancine) sofreu intervenções direitas do governo federal, a ponto de o longa-metragem Marighella – que narra a história do líder comunista Carlos Marighella – ter sua estreia nacional adiada por “não conseguir cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Ancine”.
Já o Centro de Artes Cênicas da Fundação Nacional das Artes (Funarte) censurou a realização da temporada de estreia da peça Res Publica 2023, do grupo teatral Motosserra Perfumada, marcada para Complexo Cultural da Funarte, em São Paulo, sob a justificativa de que a peça era “excessivamente ideológica” e não reunia “qualidade artística” para ocupar uma das salas do Complexo.
Também é importante lembrar que, se o Auxílio Emergencial de 600 reais (em tese, destinado a um público mais amplo) ainda não chegou a milhões de brasileiros que dele necessitam, não é difícil concluir que os profissionais de cultura enfrentarão vários obstáculos para terem acesso a “ajuda” governamental (isso se realmente conseguirem obter).
E não adianta trocar o secretário de Cultura. Com o dublê de Goebbels Roberto Alvim, com a “namoradinha do fascismo” Regina Duarte ou com o ator de Malhação, Mario Frias, os ataques ao setor cultural serão os mesmos. A questão é bastante clara: somente a mobilização do povo pela queda de Bolsonaro poderá mudar a atual realidade, não somente dos profissionais de cultura, mas da população trabalhadora em geral.