A Irlanda tem um novo primeiro-ministro, trata-se de Micheál Martin, escolhido pelos deputados em votação realizada nesta sexta (26/06) em um centro de congressos de Dublin. O local foi escolhido para evitar o Parlamento, onde o espaço não permitiria o distanciamento físico dos deputados. O primeiro-ministro eleito é chefe do partido centrista Fianna Fail (Soldados do Destino em português) e sua eleição foi resultado de um acordo inédito com seu rival histórico, Fine Gael, do igualmente centrista Partido Verde, que ocupava o cargo com Leo Varadkar desde 2017. O acordo só foi possível porque ambos desejavam bloquear os nacionalistas do partido radical de esquerda Sinn Fein (Nós Mesmos em português), partido que liderou as eleições de fevereiro de 2020. Além disso, os partidos de centro concordam em estabelecer uma liderança rotativa, pela qual se alternarão na função. Após a sessão que o elegeu, Micheál Martin, seguindo a tradição irlandesa, se dirigiu para a residência do presidente Michael Higgins, do partido Trabalhista, que o confirmou no cargo. O partido Fianna Fail retorna ao poder depois de uma década, quando amargou uma derrota esmagadora e perdeu o governo irlandês em meio a uma forte crise econômica, quando cedeu espaço para o então rival, partido Verde. O novo primeiro-ministro anunciou que priorizará o combate ao covid-19, disse ele: "Devemos estar prontos para enfrentar uma nova onda de contágio". Também foi incluído no acordo uma série de concessões de caráter ecológico como exigência do partido Verde, além é claro, do compromisso de transmitir o cargo na metade do mandato. O resultado da eleição não surpreende, mesmo pela união inesperada entre rivais. A burguesia irlandesa fez o que era necessário para evitar a subida ao poder do partido Sinn Fein, que ganhou um quarto das cadeiras do parlamento em fevereiro deste ano e que tem forte apelo popular. O Sinn Fein representa os movimentos de trabalhadores e as classes mais baixas da população e foi o braço político do IRA (Exército Republicano Irlandês) até 2005, movimento armado que lutou contra o Reino Unido pela reunificação com a província britânica da Irlanda do Norte. Atualmente o tema da reunificação volta a ganhar força no debate nacional irlandês, sobretudo após a aprovação do BREXIT, o qual marcou a saída da Gran Bretanha da União Europeia, o que corrobora com a tese de que o acordo entre os partidos burgueses teve como objetivo barrar a ascensão esquerda nacionalista.