A Venezuela é um grande exemplo da união entre a população civil e as Forças Armadas em defesa da soberania e contra o imperialismo na América Latina, através da Milícia Nacional Bolivariana, criada oficialmente em 2008 no governo de Hugo Chávez, mas que teve suas origens no Movimento Bolivariano Revolucionário 200, grupo criado por Chávez na década de 1980. O intuito da criação da Milícia Nacional Bolivariana foi de colocar uma união cívico-militar em defesa da nação venezuelana, que sofre ataques recorrentes do imperialismo, em especial dos Estados Unidos. Segundo o artigo 326 da constituição venezuelana “a segurança da nação se baseia na corresponsabilidade entre o Estado e a sociedade civil para cumprir os princípios de independência, democracia, igualdade… O princípio da corresponsabilidade é exercido nas esferas econômica, social, política, cultural, geográfica, ambiental e militar”.
Os grupos armados são formados por jovens, professores, pescadores, enfim, todo o povo venezuelano é representado em todas as partes do país, e realizam treinamentos em várias escolas das forças de segurança da Venezuela e também no Forte Tiuna, onde aprendem o manuseio das armas e também participam de exercícios de capacitação. Além das questões de segurança, os grupos também têm em suas competências o processamento e difusão de informação, através de conselhos comunitários, para elaboração de projetos, planos e programas para o desenvolvimento integral da nação, sendo compostos por milhares de pessoas e acompanhados pelo governo para construção de modelos de gestão popular.
Os grupos também assumiram a segurança de instalações públicas em todo o país, como hospitais e escolas, e também participam da distribuição do programa de alimentos da Venezuela. Em discurso no final de 2019, Nícolas Maduro afirmou que já são 3,3 milhões os venezuelanos que fazem parte da Milícia Nacional Bolivariana. Podemos ver como a milícia realmente funciona dentro do objetivo de integração cívico-militar se pegarmos o exemplo da mais recente da tentativa de incursão armada orquestrada pelos Estados Unidos e o golpista Juan Guaidó, que foi frustrada por pescadores armados ao longo da costa do estado de La Guaira, em maio deste ano. Além disso, a união cívico-militar trabalha também nas ações contra a pandemia da Covid-19 no país.
O caso venezuelano mostra como é possível a formação das milícias populares nos países da América Latina, incluindo o Brasil. A organização popular, o treinamento e a participação de todas as camadas de trabalhadores é necessária para a defesa dos interesses dos trabalhadores, da soberania nacional e contra o imperialismo e os ataques as riquezas nacionais, além de proteger os trabalhadores contra os aparatos de repressão burgueses.
A segurança da população e a defesa de seus interesses devem ser feitas pelos próprios trabalhadores organizados, o que leva também a uma organização política e social que atinge outros níveis, já que as milícias populares também agem em planos de ação de desenvolvimento das comunidades. O armamento popular e sua organização garantem que os trabalhadores possam verdadeiramente defender as sua classe e também os seus interesses contra os interesses burgueses e imperialistas.