Durante a noite do último domingo (21), o Acampamento Lagoa Nova Carajás, localizado em Parauapebas, no estado do Pará, foi brutalmente atacado a mando da mineradora Vale. O local é coordenado pela FETRAF (Federação de Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar) e abriga 248 famílias há cinco anos. Segundo relatos de vítimas, mais de cinquenta homens sobressaltaram os trabalhadores com balas de borracha, spray de pimenta, bombas e armas de fogo na investida violenta.
Os agricultores acampados na Fazenda Lagoa tentaram sem sucesso, desde 2015, estabelecer diálogo com a Vale, dona da propriedade que se encontrava improdutiva até o momento da ocupação. A pretensa negociação visava o acesso a energia elétrica para todos da área, mas a carência tornou-se de caráter ainda mais urgente diante da pandemia. Em vista disso, os moradores organizaram-se e providenciaram a realização do serviço, quando capangas contratados pela mineradora iniciaram uma dispersão sangrenta — dentre os presentes, idosos e crianças.
A produção do cenário recente de massacre não é nova se rememorada a política da empresa criminosa, responsável por afundar Brumadinho (MG) em lama. Nesse sentido, se levada em consideração a história do Pará e da Região Norte, a violência foi sempre usada para impedir que trabalhadores do campo seguissem na luta por conquista de terras, com diversos assassinatos de lideranças financiados por latifundiários e por grandes empresas e abafados pela mídia corporativa e pelo Estado burguês.
Não obstante, está a relação entre a Vale e o crescente número de casos da Covid-19 em Parauapebas. Com 200 mil habitantes, o lugar formou-se através da mineração da empresa e mantém o Complexo Carajás, maior projeto de extração de minério de ferro no mundo, que segue funcionando mesmo durante a pandemia. Como resultado, o número de casos do novo coronavírus na cidade do interior paraense já ultrapassa os 9.000 — isto é, quatro vezes o índice de contágio de todo o estado, que tem mais de 86.000 infectados e uma população de quase 8,1 milhões.
Desse modo, a classe trabalhadora é lançada à cova dos leões pelo governo fascista de Jair Bolsonaro, que, com aval dos governadores estaduais, considerou a mineração como atividade essencial a fim de promover a manutenção de lucros dos capitalistas em plena crise de saúde pública. Tal feito encontra origem na política neoliberal aplicada pela figura do Ministro da Economia Paulo Guedes, que já declarou, em divulgação de vídeo da reunião ministerial pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sua intenção acerca de “salvar os grandes” em detrimento dos “pequenos”.
Por isso, já se pode enxergar com clareza a gravidade da paralisação da Reforma Agrária e da medida de não assentamento das famílias acampadas, bem como dos planos de privatização da direita. Essas são políticas que resultam no genocídio atual de camponeses, escancarando a urgência de uma luta a ser desenvolvida no campo contra o aprofundamento do fascismo pelo governo de Bolsonaro e dos golpistas. Assim, apenas, massacres como o do último domingo e os que comumente ocorrem Brasil afora serão combatidos de maneira efetiva.