A colunista Hengameh Yaghoobifarah, do jornal berlinense Tageszeitung, publicou um interessante texto que satiriza a atividade da polícia e realiza uma série de críticas. Em tom de sátira, Hengameh reflete sobre qual seria o melhor local de trabalho para policiais desempregados, em suas palavras, “caso a polícia fosse extinta, e o capitalismo, não”. No final do texto, ela declara que os policiais são inúteis para exercer uma infinidade de profissões e aponta que seu devido lugar é o depósito de lixo.
Com conhecimento de causa e estilo literário, Hengameh esclarece que o lugar deles não seria o de lixeiros, uma vez que são inúteis. Ao contrário, seu devido lugar é estar “na montanha de lixo, onde eles realmente estariam cercados de dejetos”, pois “entre os seus iguais, eles certamente se sentem mais à vontade”.
Por exercer seu direito democrático de liberdade de expressão, a colunista foi ameaçada de ser processada criminalmente por calúnia e incitamento à violência pelo Ministro do Interior, Horst Seehofer, do governo do conservador partido União Social-Cristã (CDU). O ministro disse que está em um encruzilhada entre defender a liberdade de expressão da jornalista e o direito penal.
Para tentar fundamentar a censura, Seehofer estabeleceu uma conexão causal entre as sátiras da jornalista à polícia e os episódios ocorridos na cidade de Stuttgart neste último final de semana. Os sindicatos de policiais da Alemanha DPolG e GdP afirmaram que estão processando o jornal berlinense por causa da coluna.
A editora-chefe do jornal, Barbara Junge, afirmou que o ministro é responsável pela polícia, mas também por garantir os direitos previstos na Constituição, isto é, a liberdade de expressão e liberdade de imprensa. Bárbara disse que “Nesse caso, o ministro do Interior coloca a polícia acima da liberdade de imprensa”.
O episódio esclarece que na Alemanha, um país imperialista com um regime democrático-parlamentar, a liberdade de expressão é garantida, mas desde que não seja utilizada para criticar as instituições do Estado, em especial o aparelho de repressão. Se o direito democrático é relativo ao assunto em questão, isso significa que ele não existe e que o arbítrio definirá o que pode e o que não pode ser dito.
A democracia é uma fachada na Alemanha, assim como em todos os países imperialistas. Na verdade, todos os regimes são antidemocráticos e estabelecem mecanismos de censura e repressão contra a atividade jornalística e, em especial, contra a imprensa de esquerda e das organizações operárias e populares. Os sites de esquerda foram bloqueados no país há alguns anos.