O cientista político Aldo Fornazieri publicou no sítio Brasil 247 um artigo intitulado “O extravio das esquerdas”, no qual ele defende a tese de que a esquerda brasileira nunca esteve tão perdida: “os partidos entraram numa defensiva estratégica no início de 2015 e de lá não conseguem sair. Adotaram posturas defensivas e reativa com as quais cavaram derrotas sucessivas”. Para ele, “o medo, a covardia e o vício parlamentar são os principais inimigos das esquerdas”.
Fornazieri critica corretamente essa inatividade da esquerda. De fato, os partidos da esquerda institucional não conseguem enfrentar o golpe nem o governo Bolsonaro. Pior, os partidos colocaram-se na retaguarda do movimento político, a ponto de que as torcidas de futebol saíram às ruas enquanto a maior parte da esquerda reluta em fazer o mesmo.
Os partidos “estão na retaguarda de torcidas de futebol na luta pela democracia e no enfrentamento ao governo Bolsonaro e a seus ativistas que vinham sendo senhores das ruas”. De fato, o que se coloca neste momento é que, se dependesse apenas da esquerda pequeno-burguesa, os bolsonaristas seriam “senhores das ruas” ainda hoje.
O que Fornazieri não explica claramente são os motivos dessa política de completa paralisia da esquerda. A política de completa adaptação diante da direita. Essa esquerda se recusa a mobilizar o povo mas busca qualquer pretexto para se aliar com a direita: “Promovem discussões tão infindáveis quanto inúteis sobre frente disso e frente daquilo, manifesto disso e manifesto daquilo, assinar ou não assinar um abaixo-assinado, esquecendo-se que a história sempre mostrou que a unidade se constrói nas lutas e que as fórmulas nunca foram úteis na substituição dos combates.”
Esses manifestos a que se refere Fornazieri são aqueles assinados por setores da esquerda por uma frente ampla com elementos da direita tradicional. Essa política só pode estar em total oposição à uma mobilização real, a uma luta real.
O colunista afirma que: “As atuais direções conduziram os partidos de esquerda a tamanha irrelevância que o principal confronto político do país hoje se define em termos de um confronto entre o governo de extrema-direita com governadores e atores de centro-direita.” Esse é uma das questões centrais. A esquerda, completada adaptada ao jogo institucional e à política de setores da direita, acabou adotando durante todo esse período a política dos governadores, como foi o caso da defesa do isolamento social como única política contra a pandemia.
Por fim, Fornazieri coloca em relevo o papel totalmente desmobilizador da esquerda. “Nota de senadores dos partidos de esquerda desmobilizaram os protestos do dia 7 de junho, não só por conta da pandemia, mas porque soaria como uma provocação ao governo. Tratou-se de um exercício claro da pedagogia do acovardamento, da espera, da defensiva e da resignação em face de um governo que humilha e maltrata o povo e que, cruelmente, o conduz à fome e à morte.”
Esses setores da esquerda, mesmo diante da demonstração das torcidas e do povo que saiu à rua, insiste em uma política para desmobilizar a população, cujo único resultado só pode ser o fortalecimento de Bolsonaro.
As críticas de Aldo Fornazieri são corretas no essencial. Falta, porém, ir além da mera constatação um pouco pessimista sobre a esquerda. É preciso colocar em marcha uma política de enfrentamento da direita, que passa pela mobilização do povo nas ruas e com um programa claro de luta que começa pela derrubada de Bolsonaro, não por meio de manobras institucionais – que no fundo são inócuas – mas de uma verdadeira mobilização que coloque o povo na dianteira da situação.