Um dos principais membros da equipe do ministro Paulo Guedes anunciou que vai deixar o governo nos próximos meses e que vai para a iniciativa privada. É o secretario do Tesouro Nacional, o economista Mansueto Almeida, funcionário de Carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, e ligado ao PSDB, muito próximo de Tasso Jereissati e Aécio Neves. Nos últimos anos esteve ligado aos principais projetos da extrema-direita, desde o governo Temer, para destruição dos direitos trabalhistas e sociais, como a Emenda Constitucional do Teto dos Gastos, a reforma trabalhista, a reforma previdenciária e a privatização da Caixa Econômica Federal, era o mentor da privatização das loterias.
O anúncio de sua saída foi uma notícia explosiva no interior do mercado financeiro e de capitais, que teme que isto signifique o enfraquecimento da política de saque que o capital financeiro internacional tem feito nas contas públicas brasileiras. O próprio Mansueto se encarregou de tranquilizar a burguesia financeira e os rentistas afirmando que a política fiscal não mudará.
Segundo ele mesmo, sai agora para atuar em alguma empresa privada e não por conflitos com o governo. Afirma que a coluna vertebral da política neoliberal do governo é o Teto de Gastos, que está agora na Constituição. Além disso, sua equipe continuará no governo e “há uma convergência muito grande” entre os secretários de fazenda dos estados com a politica fiscal vigente. Com esse grupo inclusive anuncia que vai “construir o plano de reequilíbrio financeiro dos estados, porque os estados vão querer investir nos próximos anos, e para investir é preciso se comprometer com o ajuste fiscal” (O Globo, 15/6/2020).
Visto como um contabilista no corpo de um economista, Mansueto encarna mesmo a ideologia que domina a burocracia da área econômica do governo federal e governos estaduais. Com poucas variações, é um setor dominado pelo capital financeiro e pela ideologia rentista, que privilegia os “investidores”, banqueiros e empresas financeiras, a mesma ideologia que reverbera na grande imprensa e encontra poucas mentes com posições contrárias nos partidos da esquerda com representação no Congresso Nacional.
Apesar do medo que causou no mercado financeiro, ele segue o costumeiro caminho de funcionários públicos que acabaram se valorizando fortemente junto a empresas privadas e quer aproveitar esse momento de forte valorização pessoal para ser bem remunerado na área privada. No mais, continua tudo igual. A política monetária e fiscal continuam pautadas pelos mesmos critérios e subordinadas aos mesmos senhores. As restrições fiscais continuam, com a exceção das transferências a banqueiros e grandes empresários, como já afirmou o ministro da Economia.
A pauta econômica e a fome do capital financeiro em abocanhar parte das contas públicas são o que garantem força para o governo junto a expressiva parcela da burguesia. Enquanto conseguir representar a única forma do imperialismo liquidar e subordinar a economia nacional aos seus interesses imediatos, o governo vai se sustentando, mesmo que parte da burguesia já esteja ensaiando uma saída por cima com setores da oposição e militares.