“O filme se encaixa como uma luva neste momento. O longa em si não tem o foco do racismo, mesmo se fala a respeito. Em nenhum momento do roteiro eu descrevia o protagonista como um homem negro. Apenas um brasileiro, do interior, rústico, com marcas do tempo no rosto. Eu precisava de alguém com força, com vibração. Até costumo falar, ‘com sangue no olho’. E isso eu encontrei no Antonio Pitanga. No filme ele enfrenta uma comunidade racista e agora, com o assassinato brutal do George Floyd, essas histórias acabam colidindo.”
É o que disse João Paulo Miranda, produtor do longa-metragem “Casa de Antiguidades”, que aborda um tema importante nos últimos tempos, que é o racismo. Sendo o único filme brasileiro e latino-americano que receberá o selo oficial do Festival de Cannes, entre uma seleção de 56 produções que seriam exibidas este ano, mas a edição de 2020 foi cancelada de devido à pandemia do coronavírus. O evento foi divulgado nesta última quarta-feira, dia 3.
O cineastra que está vivendo já faz um tempo na França, neste seu último filme, aborda o racismo e a solidão, que é uma produção franco-brasileira e que conta história de um vaqueiro negro, de Goiás, interpretado por Antônio Pitanga, que se muda para uma comunidade austríaca, no estado de Santa Catarina, por conta da escassez do local onde mora, procurando melhores condições de vida e deixando para trás uma casa com várias antiguidades que o faz ter memórias de seu passado, conseguindo desta forma, enfrentar uma sociedade racista e conservadora.
Uma obra que ao mesmo tempo que tem um abordagem forte, também é muito singelo, talvez pela carisma do ator Antônio Pitanga. Assim como conta o diretor que o filme “força a sociedade a rever seus costumes”, a questionar “o consumo, as tradições”. Mostrando a violência racial, que tem esta força desde os tempos da escravidão e isso explica porque os negros são descriminados quase que no mundo inteiro, mas principalmente aqui nas Américas como o caso real de George Floyd, que aconteceu nos Estados Unidos, que mostra muito bem isso.
Aqui no Brasil, o racismo está muito presente, como mostra no longa, e só será vencido com muita luta ainda. Pois existe um sistema que exclui as minorias em direitos, como os negros e as mulheres. Dificilmente essas identidades conseguirão se sobressair no capitalismo, onde o preconceito, que já existe antes deste sistema, é muito acirrado. A única maneira de combater o racismo ou qualquer preconceito e emancipar de vez os excluídos é unindo essas pautas, acabando de vez com o capitalismo, que já está ruindo, ou seja, já é um sistema falido e está prestes a acabar.