No último sábado (13), o jornal Folha de S.Paulo publicou, com exclusividade, um estudo intitulado “Estamos fechando escolas: essa é uma decisão sábia?”. O levantamento foi financiado pelo Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, que prevê a redução de 5,3% a 23% do PIB brasileiro por conta do atual déficit de aprendizagem e vaticina uma queda de 5% caso se decida atrasar o calendário letivo das instituições particulares. Tal conluio, entre mídia golpista e organizações privadas de ensino, sinaliza como são poderosas as empresas do setor educacional e perigosas suas pretensões para a garantia de uma educação democrática.
A partir da instauração do governo ilegítimo de Michel Temer, puderam ser percebidas diversas investidas de desmoralização do ensino público e de seus profissionais ou até da pedagogia como ciência. No mesmo sentido, houve movimentos pela retomada do ensino tecnicista, formador de mão de obra barata sustentado fortemente pela ditadura militar (1964–1985), assim como foi promovida a propaganda massiva pela educação a distância, que tem se mostrado uma estratégia eficiente e ampliada de segregação de estudantes e exploração de professores, embora ainda não funcione de modo a suprir totalmente o modelo econômico atual.
Essas foram políticas prioritárias estabelecidas na folha de planejamento ultraliberal para a educação brasileira, com a intenção de que suas projeções econômicas orientem as necessidades (até mesmo curriculares) das escolas e que os valores do mercado de trabalho capitalista infiltrem-se em todos os âmbitos da vida dos estudantes. Por isso, hoje, não há discussão sobre a precariedade no ensino, mas apenas sobre as pretensões financeiras de grandes empresas que, ligadas ao capital internacional, tramam o retorno de inúmeros alunos e profissionais às escolas em plena pandemia.
Assim, a política capitalista de manutenção soberana de lucros reafirma-se no Brasil, onde a lógica de investimento mínimo e precário intensifica-se através da profunda crise econômica provocada pelo atual governo fascista. Em função disso, as instituições educacionais privadas e seus aliados burgueses pressionam o poder público para o retorno às aulas presenciais — prática que vem sendo apoiada pelos mesmos governadores defensores do “fique em casa” e revela como o discurso favorável a tal medida é oportunista e vazio de resultado prático.
Por consequência, a atual paralisia das organizações estudantis — que deveriam estar mobilizadas em função da defesa dos estudantes, mas estão totalmente rendidas ao artifício do isolamento social — faz com que o avanço das políticas de genocídio não encontre freio no ambiente educacional. Portanto, a União Nacional dos Estudantes (UNE) mostra-se atrasada em impulsionar uma luta em defesa do ensino público para todos e contra os ataques à educação operados pela direita golpista.
Em vista disso, uma reação deve ser cumprida mediante a organização da classe estudantil junto à classe operária nas manifestações pelo “Fora, Bolsonaro” país adentro. No Brasil, tais movimentos têm seguido precauções sanitárias e evidenciado a falácia do isolamento social, uma vez que a maioria dos trabalhadores segue exposta ao vírus a fim de servir à população isolada. Ou seja, a exploração agrava-se com a crise econômica e a de saúde, o trabalhador segue saindo às ruas para trabalhar, mas existe uma força, empunhada, inclusive, pela esquerda pequeno-burguesa, que tenta impedi-lo de manifestar sob premissa de evitar exposição social: eis outra face do oportunismo político.