Como se fosse bonzinho, Boulos anunciou que vai aos atos do dia 7, vai ajudar a convocar, vai distribuir máscaras, vai chamar atos para todos os domingos. Fora o próximo domingo, portanto, a manifestação seguinte ocorreria no dia 14, um dia após a manifestação chamada pelas frentes populares. A Frente de Boulos colocou que iria acabar com os infiltrados, tornar o ato pacífico. Pacificar o ato antifascista para facilitar a vida da burguesia.
Na contramão, os atos antifascistas encabeçados pelas torcidas organizadas, que tem ganhado fama por serem combativos no sentido mais literal do termo, fizeram a burguesia tremer diante da ofensiva desse setor representante das disposições de luta do povo em geral. O próprio Bolsonaro chegou a orientar os seus apoiadores a escolherem outro dia para os seus atos. Os fascistas recuaram diante da ofensiva popular.
Nessa situação, Boulos, agindo como um verdadeiro emissário de Dória para conter a radicalização popular, militando em torno das posições da frente ampla num ato anti-burguesia, na semana em que assinou o manifesto “Juntos”, da Frente Ampla, junto a Fernando Henrique Cardoso, Luciano Huck e outros homens da Burguesia, disse que vai “pacificar” os atos das torcidas organizadas. A retórica esquerdista não esconde a posição direitista do líder da Frente Povo sem Medo, criada para dividir o esforço do estabelecimento de uma unidade na esquerda através da fundação da Frente Brasil Popular.
A disposição direitista e divisionista, inclusive, é uma verdadeira tradição de Boulos. Enquanto a burguesia articulava o golpe contra a Dilma em 2014, Boulos lançou a campanha “Não vai ter copa”, fazendo frente com os golpistas na oposição à ex-presidenta. Enquanto era necessário intensificar a campanha em defesa do mandato da presidenta no ano precedente ao golpe, em 2015, Boulos passou a chamar atos em oposição ao governo, ganhando uma coluna na Folha de S. Paulo. Enquanto se colocava a necessidade de denunciar o golpe de estado de 2016, exigindo a restituição do mandato de Dilma, Boulos se lançou no “diretas já” e o “fora temer” seguindo outros setores. Enquanto se colocava a necessidade de unificação da esquerda em torno da candidatura de Lula em 2018, Boulos lançou a sua própria, com retórica lulista, de modo a dividir o eleitorado. Agora, Boulos chama o ato do dia 14 para confundir e dividir a mobilização unificada para o dia 13.
A burguesia titubeia entre o golpe militar e um governo de direita apoiado na frente ampla, não ha lugar para os torcedores enfrentando os fascistas em nenhum desses regimes. Nesse sentido, o desmantelamento das lutas popular é a chave para a investida definitiva da direita. Esse papel está nas mãos de Boulos e da Frente Ampla, ou se fracassarem, nas mãos das baionetas e dos generais.