A classe média – de esquerda e de direita, cada uma a seu modo – tem reproduzido já há muito tempo uma campanha difundida pela burguesia contra as torcidas organizadas. As massas de torcedores seriam despolitizadas, “alienadas pelo futebol”, violentas. Mais recentemente, essa campanha ganhou novos adjetivos: os torcedores seriam monstros homofóbicos, machistas e outras coisas parecidas.
Os que acusam os torcedores de tudo isso estão jogando água no moinho da direita que quer censurar, reprimir, perseguir e extinguir as torcidas organizadas.
A presença de algumas torcidas organizadas e torcidas antifascistas em atos contra o governo Bolsonaro e os bolsonaristas que aconteceram nos últimos dias voltaram as atenções para essas organizações, até então consideradas “despolitizadas”. A esquerda pequeno-burguesa passou a bajular as torcidas como grandes exemplos de luta, o que é verdade, mas revela a propensão para a demagogia dessa esquerda que se colocou sempre que pôde contra o futebol e os torcedores.
Há claramente uma tendência de mobilização entre as torcidas, que são compostas em sua maioria por trabalhadores e filhos da classe operária. Essas organizações podem inclusive se transformar em um instrumento de mobilização geral da classe operária.
Esse perigo para a burguesia é o que explica os anos de perseguição contra as torcidas organizadas e a campanha ideológica contra elas, que a classe média reproduz. A burguesia não quer os trabalhadores organizados, nem para o futebol.
É tarefa de toda a esquerda que esteja realmente a favor de derrotar Bolsonaro e todo o golpe de conjunto estar lado a lado com esses torcedores. Mas, mais do que isso, é preciso levantar um programa de luta para as torcidas, tão esmagadas pela direita.
É preciso mostrar que a defesa do direito de torcer, de ir aos estádios sem ter que pagar ingressos com preços absurdos, a luta contra as proibições ilegais de levar bandeiras e faixas para as arquibancadas, em suma, a luta pelo direito de existência e a sobrevivência das torcidas passa por derrotar a direita; não apenas a direita bolsonarista, que defende abertamente a repressão policial contra os torcedores, mas a direita tradicional, o PSDB, o DEM, o PMDB e todos os partidos burgueses que são inimigos do futebol.
Os fascistas, Bolsonaro, Major Olímpio, Fernando Capez, João Doria e tantos outros da mesma laia são inimigos declarados das torcidas organizadas. Eles não querem o povo frequentando os estádios e não querem o povo se manifestando nas ruas.
Lutar contra o fascismo e o golpe é lutar pelo futebol popular. Lutar pelos times do coração é lutar contra os capitalistas que parasitam esses clubes.