O que estamos assistindo nesse momento diante do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos é uma enxurrada de demagogia partindo da imprensa burguesa e imperialista com o objetivo de se apropriar das manifestações, colocando a revolta do povo negro em questões por menores. São centenas de relatos de negros em praticamente todos os jornais e programas de televisão denunciando o racismo que sofreram ao longo de suas vidas, a falta de espaço em posição de poder dentro das grandes empresas, as dificuldades enfrentadas para estudar, a desigualdade, enfim.
Não podemos negar o racismo estrutural que se perpetua na sociedade mundial. No entanto, tentar tapar o sol com uma peneira é pior ainda. Durante essa semana alguns negros líderes de empresas americanas- Chef Executive Oficer (CEO)– vieram a publico tentar justificar o crime cometido pela policia racista em Minneapolis e a explosão das mobilizações no país. Relataram suas experiências com a discriminação que sofreram ao longo de suas vidas e as dificuldades enfrentadas para chegar em altos cargos dentro das empresas. E por fim uniram suas vozes a outros empresários e burguesia norte-americanos pedindo união calma para seus funcionários e a população.
Mas para além da “luta contra o racismo” dos CEO’s negros americanos, devemos nos atentar que a verdadeira luta contra racismo e do povo negro está no terreno de acabar com o aparato repressivo do estado e pelo fim do capitalismo. Não se acaba com o racismo com essa estrutura de classe toda montada e arquitetada para que os negros continuem sendo sufocados e vitimas da exploração no trabalho, nas ruas, mortos diariamente pelas mãos do estado capitalista através de seus cães de guarda, sem escolas, sem hospitais, moradias dignas e etc.
É visível que esse tipo de demagogia de “luta contra o racismo” nesse momento tem um carácter de jogar fumaça nos olhos não só dos negros mas como toda a população em geral. O assassinato de Floyd e a radicalização das mobilizações contra o governo norte-americano é um sinal de uma guerra que já dura séculos, e que vem se acentuando de maneira extraordinária na decadência do capitalismo, onde a maior parte das vitimas são os negros. A crise econômica, social e sanitária se abate com muito mais intensidade nas populações negras e pobres dos países em todos continentes.
A medida que aumenta a rebeldia da população pobre contra a burguesia e a opressão, a direita fascista através da imprensa golpista trata logo de esfarelar as mobilizações colocando-as em pautas identitárias. Escolhem a dedo certos capitães do mato para tentar minimizar a gravidade da situação. Como o caso de uma matéria publicada no The New York Time de uma pesquisa feita por professor de Havard negro, tentando provar que as chances de um branco ser morto pelo policia eram maior do que as dos negros. Uma farsa completa.
Portanto não se trata de uma luta contra o racismo cultural com o fim de igualar o negro dentro do regime capitalista, com cotas nas empresas, cotas nas universidades, pois no capitalismo esse tipo de desigualdade jamais vai acabar. A luta do povo negro nesse momento de falência de um regime arcaico, caindo os pedaços como o atual, junto a polarização de classe e politica é uma questão de sobrevivência da população marginalizada. A tentativa da burguesia de deslegitimar as manifestações para conter a radicalização da luta de classe deve ser vista como mais um ataque contra os povos negros.