Nos últimos dias diversos setores ligados às forças armadas se pronunciaram publicamente, ameaçando, inclusive, o país de colocar em marcha um golpe militar, por conta dos das ações do STF contra o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro. Se pronunciaram ministros do seu governo, como a nota do general Augusto Heleno no dia 22/05, a nota de oficiais da reserva do Exército, que defenderam as colocações de Augusto Heleno e Bolsonaro e atacaram o STF e do Clube Naval que seguiu a mesma linha.
As colocações dos militares, se avolumaram desde final de abril, quando o ministro do STF, Alexandre de Moraes, deferiu ação liminar impedindo a nomeação de Alexandre Ramagem a diretor-geral da Polícia Federal (PF). Depois, no dia 22/05, houve a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, citada em depoimento por Sérgio Moro para comprovar a intenção de interferência de Bolsonaro na PF e, em seguida, houve o pedido do STF, por meio do ministro Celso de Mello, que encaminhou à Procuradoria Geral da República o pedido de apreensão do celular de Bolsonaro a para averiguações sobre a denúncia de Moro.
Nos últimos dias, entretanto, estas mesmas figuras vieram à público amenizar as declarações e colocar a situação como um “erro de interpretação”. O vice-presidente Hamilton Mourão, por exemplo, disse que há um “estresse” somente entre os poderes do Estado declarando “quem é que vai dar golpe? As Forças Armadas? Que que é isso, estamos no século 19? A turma não entendeu. O que existe hoje é um estresse permanente entre os poderes. Eu não falo pelas Forças Armadas, mas sou general da reserva, conheço as Forças Armadas. Não vejo motivo algum para golpe”.
Já o chefe do GSI, general Augusto Heleno disse “Não houve esse pensamento [de intervenção] nem da parte do presidente nem dos ministros”, disse, em entrevista na quinta-feira (28). Heleno reforçou ainda que “ninguém está prevendo golpe, nada disso”.
As posições dos demais militares que compõem o governo seguiram a mesma linha de a possibilidade de um golpe militar “ser criação da mídia”, de que as ações dos oficiais das FAs não visam interferir nas questões de governo do país, como declarou o general Luiz Eduardo Ramos da Secretaria de Governo.
É preciso deixar claro que a mudança de tom dos militares, que se colocam de certa forma coordenada, é apenas uma questão de discurso, pois analisando os fatos, não resta dúvida que, desde o golpe de 2016, os militares tem dominado os espaços políticos de uma forma cada vez mais ampla, com um avanço sistemático pelos poderes no executivo e todos os ministros militares e cargos do alto escalão, na justiça, principalmente, com o assessor militar do presidente do STF Dias Tóffoli e no legislativo, com um número nunca antes visto de deputados e senadores ligados ao aparato de repressão do Estado.
O atual discurso dos oficiais militares visa reforçar o apoio ao governo Bolsonaro, na tentativa de afastar as crises que debilitam o governo, ameaçando os setores da burguesia que divergem parcialmente do Bolsonaro e, principalmente, das organizações populares que estão em franca contradição com o governo, utilizando sua principal arma, o monopólio da violência, da força das armas.
Assim, como ocorreu em 64, quando os militares não tinham consenso sobre colocar o golpe em prática por medo da reação popular, os militares de hoje também têm receio da reação popular, que tende a crescer cada vez mais, conforme avançam as crises sanitárias, da pandemia do coronavírus, e econômica, que irão desaguar inevitavelmente contra o governo Bolsonaro. Por isso fazem essa política de “morde e assopra”. Mas, não se deve ter dúvidas que, caso a burguesia encare como medida necessária, apesar dos custos, colocar os tanques na rua, é uma medida não só possível, como a cada dia de “sobrevida” do governo Bolsonaro, essa ameaça ganha mais força e possibilidades de ser colocada em prática.