O nível de desorientação do PSTU com relação a situação política tem levado o próprio partido – que se reivindica “revolucionário” e “trotskista” -, a sua “central” e os sindicatos por ele dirigidos a peripécias verdadeiramente escatológicas.
A última delas foi protagonizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Em um “ato” virtual em defesa da reestatização da Embraer, realizado na última quarta-feira (27), o sindicato apresentou, entre outros convidados, o ex-candidato à presidência da República, o coronel golpista da política cearense, Ciro Gomes.
Um dos políticos mais venais da política nacional, Ciro Gomes ganhou notoriedade por ser um instrumento usado pela burguesia no combate a esquerda. Sem querer resgatar a sua vida pregressa, mas apenas para apontar, Ciro foi o ministro da Fazenda de Itamar, no período do golpe do “Plano Real”, que garantiu a rearticulação da burguesia em meados dos anos 90 e que resultou na vitória eleitoral de Fernando Henrique Cardoso e a política de terra arrasada contra a população e o País na primeira onda neoliberal.
No período do golpe de 2016 foi o político utilizado pelos golpistas para fazer a campanha pela “esquerda” pela consolidação do golpe de Estado, pela perseguição ao PT e particularmente ao ex-presidente Lula e, finalmente, por garantir a vitória do fascista Bolsonaro nas eleições de 2018.
Atualmente o vice-presidente do PDT – que, diga-se de passagem, nada tem haver com o nacionalismo limitado representado pelo fundador do Partido, Leonel Brizola – cumpre o papel, obviamente de acordo com os interesses da burguesia, em criar confusão no interior da esquerda com o seu suposto apoio ao impeachment de Bolsonaro.
O seu PDT, juntamente com a ala “esquerda” do centrão – PSB, Rede, PV e Solidariedade – estão em uma aliança na tentativa de impedir o desenvolvimento da frente única formada por mais de 400 entidades populares e partidos de esquerda, que protocolaram um pedido de impeachment de Bolsonaro, entre eles o próprio PSTU.
O que Ciro e seus aliados almejam é abortar a campanha do impeachment entregando ao próprio congresso golpista a condução de todo o processo e com isso tentar freiar o desenvolvimento da tendência à mobilização popular.
Pois é justamente esse mesmo Ciro Gomes, que o sindicato dos Metalúrgicos apresenta agora como um “defensor” da reestatização da Embraer.
Aqui se abrem duas situações. Demonstra, por um lado, que o sindicato parece ter a ilusão de que pode usar o político do PDT como garoto propaganda para atrair setores da burguesia a sua campanha. A segunda e esta é fundamental, é que a política do PSTU e do seu sindicato serve, na prática, para criar a ilusão na esquerda, mas principalmente entre os trabalhadores, de que Ciro Gomes é um aliado, é de esquerda. Dessa forma, o PSTU cede espaço para Ciro fazer propaganda enganosa entre os trabalhadores e posar de “nacionalista”, quando tem uma trajetória marcada pelo entreguismo e submissão ao imperialismo.
A política do PSTU é uma versão miniaturizada da frente ampla defendida pelo PCdoB e pela direita do PT, que serve, em última instância, para resgatar juntos às massas políticos desacreditados da burguesia e com isso permitir uma rearticulação do próprio campo burguês diante do desenvolvimento da crise.
Poderia até se objetar que a aliança com Ciro Gomes pode até ser natural para o PSTU, uma vez que o partido defendeu a deposição da presidenta Dilma, a prisão de Lula, etc., mas foi justamente o PSTU, a Conlutas – sua central sindical de “mentirinha”e os seus sindicatos, que menos de um mês atrás denunciava o PT, a CUT e outras organizações de esquerda por promoverem um 1º de maio, também virtual, junto com Fernando Henrique Cardoso e outros notórios políticos da direita brasileira.
Tanto o ato do 1º de maio como esse agora têm o mesmo significado. Um tanto quanto o outro, vão na contramão de uma política independente dos trabalhadores diante dos patrões e do seu governo. Não acreditam na ação das massas – e é por isso que deixam seus sindicatos fechados -, mas sim que a aliança com partidos da burguesia permitirá algum ganho na luta pelo Fora Bolsonaro ou mesmo pela reestatização da Embraer. Que ledo engano!